Judeus - PERSONALIDADES

NOÉ

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NOÉ

“Noé foi um homem justo e perfeito em sua geração”, afirma a Torá. Sua vida e suas ações se entrelaçam com o Grande Dilúvio que varreu a Terra no início da história, destruindo toda a humanidade, à exceção dele e de seus familiares.

A primeira menção a Noé é feita já no final da primeira porção da Torá, quando ele surge como a única esperança de um amanhã para o gênero humano. A narrativa bíblica aponta a profunda insatisfação do Criador com sua obra-prima - o ser humano. A Torá relata que D’us “se arrependera” de ter criado o homem, pois seus filhos se haviam tornado moralmente corruptos. Tamanha era a maldade e a violência que reinava entre os seres vivos daquela geração que D’us decide destruí-los por meio de uma grande inundação.

Quando o mundo parece estar inevitavelmente condenado a um trágico fim, o último verso da primeira leitura da Torá revela a existência de um homem que asseguraria a sobrevivência dos habitantes da terra: “Mas Noé encontrou favor aos olhos de D’us" (Gênese 6:8). O cataclisma estava sendo preparado, porém, como ensina o Talmud, “o remédio para o mal sempre precede o próprio mal”. A esperança renasce no horizonte quando D’us concentra Seu amor sobre um homem, Noé, e sua família. É a partir deles que o Todo Poderoso decide reconstruir o futuro de Seu mundo. Mas quem era Noé? Sua história, relatada no livro Gênese, da Torá, serve como prova explícita de que um único homem justo e bondoso pode salvar toda a humanidade.

A Geração do Dilúvio

Relata a Torá que desde a época de Enosh, filho de Seth e neto de Adão, os homens se haviam progres-sivamente desviado do caminho do bem, corrompendo-se moralmente. A geração que vivia na época de Noé, conhecida como a "Geração do Dilúvio", era depravada e degenerada em todos os sentidos. A imoralidade sexual aliada à anarquia moral resultou numa sociedade monstruosa. Toda a Terra fora pervertida porque os homens se haviam corrompido por completo.

Além de praticar atos violentos e imorais, os descendentes de Adão negavam o fato de D ‘us ter criado o Universo e se voltaram à idolatria. Em poucas gerações, a humanidade esquecera-se de Seu Criador, passara a adorar ídolos de “pedra e madeira” e a acreditar em falsos profetas. Surgiram no meio dos homens grandes mestres de magia negra que acreditavam ser invencíveis e se autodenominavam "mestres do universo". Afirmavam não temer nada e ninguém já que acreditavam controlar todas as forças do universo, inclusive os anjos encarregados da água e do fogo. Como resposta ao caos moral que reinava na Terra, D’us por duas vezes ordenou que as forças da natureza alagassem um terço do mundo civilizado. Mas nem isso fez os homens se conscientizarem da realidade e se arrependerem.

D’us finalmente decide pôr um fim à maldade reinante, eliminando da face da Terra todos os seres vivos (Gênese 6:7). Após a destruição, Ele daria início a uma nova geração de homens.

Quando Noé tinha 480 anos de idade, D’us a ele se revela. O Criador alerta Noé que um decreto fora proclamado nos Céus: um terceiro dilúvio, de magnitude jamais vista, atingiria a Terra. O Todo-Poderoso revela que contados 120 anos a partir daquela data, o mundo e todos seus habitantes seriam aniquilados pelas águas. Toda a humanidade iria perecer; apenas Noé e sua família seriam poupados.

Noé: a décima geração

“Lemech teve um filho” (Gênese 5:28) e o chamou de Noé, Noach, em hebraico, que significa descanso, alívio, conforto. A frase da Torá que anuncia o nascimento de Noé tem um teor profético. Desde o início de sua vida, o futuro pai da humanidade fora designado para vivenciar um milagre (Bereshit Rabá :30).

A Torá lista o nome das dez gerações de homens desde Adão até Noé. Foi através dos descendentes de Seth, filho de Adão, que os conhecimentos sobre o Criador, os segredos da Criação e as tradições sobre o Jardim do Éden foram fielmente preservados e transmitidos. Coube a Noé preservar essa sabedoria e transmiti-la às gerações que vieram após o dilúvio. Homem de extrema inteligência, Noé era, segundo o Zohar, um grande erudito. O Midrash revela que ele compilou o livro de curas que aprendera do Arcanjo Rafael. Ainda segundo o Zohar, Noé entendia a linguagem de todas as criaturas e quando entrou na Arca, D’us lhe concedeu a sabedoria necessária para entender a natureza de cada animal e, assim, conseguir cuidar de cada um deles.

Mas o mais importante era que D’us amava Noé, um justo que, como nos conta a Torá, “caminhava com D ‘us”, obedecendo e servindo-O com sinceridade. Noé permaneceu moralmente íntegro, apesar de viver no meio da perversão e da depravação. Sua retidão era conhecida entre seus contemporâneos, pois uma de suas principais ocupações era viajar entre os homens para tentar convencê-los a mudar de hábitos.

Após “caminhar com D’us”, de forma solitária, durante 500 anos, Noé se conscientiza de que o futuro da humanidade dependeria exclusivamente dele e decide ser pai. Teve três filhos - Shem, Cham e Yafet - cujas diferenças em caráter e personalidade se tornaram evidentes durante suas vidas; suas ações influen-ciaram significativamente o destino de seus respectivos descendentes. Shem representa a sabedoria, Cham, as paixões, e Yafet, a beleza e o apreço pela arte. Todos os três se salvam na Arca da Noé e posteriormente constróem as bases para povoar o mundo, novamente. É curioso que Shem, como seu pai, nasce circunciso, pois é ele quem estava destinado a se tornar ancestral de nosso patriarca Abraham.

Noé: a serenidade

A segunda porção da Torá assim começa: “Estas são as gerações de Noé; Noé foi um homem justo” (Gênese 6:9). O Midrash pergunta o porquê do nome de Noé ser mencionado duas vezes neste único verso. E responde que o nome Noé também quer dizer Neiachá - serenidade. De fato, Lemech, pai de Noé, escolhera o nome do filho conscientemente, afirmando que, um dia, o recém-nascido traria “alívio de todo nosso trabalho e do tormento de nossas mãos” (Gênese 5:29). Explica o Midrash: Noé trouxe serenidade para si mesmo e para o mundo; serenidade para seus antecessores - que agora poderiam descansar em paz - e para seus descendentes; serenidade nos mundos superiores e nos mundos inferiores; serenidade no nosso mundo e no mundo vindouro (Bereshit Rabá 30:5 e Rashi). Portanto, seu nome é mencionado duas vezes, indicando que Noé trouxe serenidade às realidades e forças opostas do mundo.

Essa serenidade veio ao mundo através do Dilúvio, apelidado pela Torá de “águas de Noé” (Isaías 54:9). O misticismo judaico revela que antes do Dilúvio, o mundo físico era insensível à realidade espiritual. Os homens se corromperam porque não acreditavam ter qualquer obrigação ou responsabilidade moral.

A Cabalá revela que as águas do Dilúvio foram um grande mikvê o banho ritual que purifica objetos e, principalmente, o corpo e alma de seres humanos. As “águas de Noé” que inundaram o mundo purificaram a matéria física; tanto o mundo quanto seus habitantes adquiriram uma maior consciência da realidade Divina. É por isso que após o Dilúvio o mundo foi abençoado com uma serenidade perpétua: o acordar espiritual dos seres humanos permitiu uma maior ligação espiritual entre o homem e seu Criador.

Noé, o homem justo de sua geração

“Noé foi um homem justo. Ele foi perfeitamente justo em sua geração” (Gênese 6:9). Alguns de nossos sábios interpretam estas palavras de forma favorável. Explicam que a Torá está revelando que se Noé tivesse vivido numa geração menos corrupta, ele teria sido um homem até mais justo. Outros, porém, interpretam esse verso de forma bem diferente: sim, Noé foi um homem correto comparado à geração corrupta de sua época, mas se tivesse vivido na época de nosso patriarca Abraham, não teria sido considerado tão bom e justo, pois não teve força suficiente para conter a imoralidade à sua volta.

Rashi, o maior comentarista da Torá, pergunta por que D’us teria ordenado a Noé que construísse uma Arca - trabalho árduo e cansativo, que levou 120 anos. Não há dúvida que o Todo-Poderoso poderia ter empregado uma forma mais fácil e rápida de salvar Noé e sua família. Rashi responde sua própria pergunta ao revelar que, apesar do decreto ter sido pronunciado, D’us, em Sua imensa Misericórdia, estava concedendo à humanidade mais 120 anos de existência - tempo suficiente para que os homens se arrependessem de seus atos e se salvassem. Durante mais de um século, os homens certamente perguntariam a Noé o motivo de estar construindo uma Arca tão grande. Ao serem alertados sobre a destruição que se abateria sobre toda a humanidade, seriam compelidos a se corrigir, evitando assim a catástrofe. Durante os anos em que trabalhou na construção da Arca, Noé nunca cessou de alertar seus contemporâneos sobre o decreto Divino. Apesar do sarcasmo e das ameaças que tinha que enfrentar, Noé pedia, implorava mesmo, para que os homens não mais praticassem a maldade. Porém, afirmam alguns de nossos sábios, seus pedidos não eram absolutamente sinceros. Talvez não tenha tido sucesso porque sempre quis isolar-se e manter certa distância dos homens de sua geração. Temia ele próprio ser corrompido. Ele foi o homem justo que permaneceu fechado em sua “arca”, mantendo-se íntegro, mas abandonando o resto da humanidade a seu destino.

O Zohar revela uma falha de Noé, até mais grave, e que acabou sendo decisiva para o fim de sua geração. Diferentemente de Moisés e Abraham, que intercederam perante D’us para que Ele preservasse a vida de grandes pecadores, Noé não rezou para que D’us poupasse a humanidade. Alguns sábios afirmam que não teria sido simples negligência. Noé não implorara pela vida de seus contemporâneos porque sabia que entre os de sua geração não se podia contar sequer com 10 homens justos.

Quaisquer que sejam as críticas feitas a Noé, a Torá o honra com o título de tzadik um homem justo e correto. Foi Noé que, frente à maior catástrofe que os seres humanos já conheceram, não apenas foi poupado, como teve o mérito de salvar a humanidade e todo o reino animal da completa extinção.

A Arca de Noé

Após alertar Noé sobre o Dilúvio que faria cair sobre a Terra, D’us lhe ordena: “Faz para ti uma arca”. D’us, Ele mesmo, instrui Noé acerca de como construí-la. A arca seria feita de madeira de cipreste e totalmente revestida de piche; mediria 150 metros de comprimento, 25 de largura e 15 de altura. Teria três andares e seria iluminada em seu interior por pedras luminosas.

Noé obedece todas as ordens Divinas e, ao final de 120 anos, termina a construção. D’us novamente se revela a Noé e lhe ordena que adentre a arca junto com seus familiares e que leve também os animais.

“Em sete dias”, alerta o Todo Poderoso, “... farei chover 40 dias e 40 noites e Eu farei desaparecer toda a existência que criei sobre a face da Terra”. Em Sua Misericórdia, D’us concede mais sete dias para que os homens se arrependam. Terremotos, raios e trovões anunciam a iminência da catástrofe. Sem resultado, no entanto.

Ao mesmo tempo, seguindo as instruções de D’us, Noé leva à arca sete pares - macho e fêmea - de toda espécie de animal não casher e um par de toda espécie de animal não casher. Os peixes foram os únicos seres vivos que permaneceram fora da arca - abaixo d’água - e sobreviveram ao Dilúvio. Quando as grandes chuvas começam, Noé, sua esposa, filhos e noras entram na arca. O futuro pai da humanidade havia estocado comida para seu sustento, bem como o de sua família e dos animais, durante o Dilúvio. Foi o que fizera durante o ano que passou na arca - dia e noite, trabalhando para alimentar e cuidar de cada um dos animais.

O episódio da arca é repleto de milagres: o número de animais que coube dentro da embarcação, a habilidade de Noé de cuidar de todos e o fato das provisões terem sido suficientes para alimentá-los foram fenômenos sobrenaturais. Apesar da grande destruição que consumia os habitantes da terra, D’us não havia abandonado os progenitores de seu Novo Mundo.

O Grande Dilúvio

O Grande Dilúvio iniciou-se no dia 16 do mês hebraico de Cheshvan. As águas de cima e de baixo aniquilaram todos os seres vivos sobre a face da Terra. A chuva incessante e as águas subterrâneas inundaram o planeta. Choveu, dia e noite, até a data de 28 de Kislev: “Choveu na terra durante 40 dias e 40 noites” (Gênese 7:12). Por que 40 dias exatos? O número 40 está ligado à purificação e o propósito do Dilúvio era limpar e purificar o mundo. Para ser válida, uma mikvê necessita de um mínimo de 40 medidas de água de chuva ou de fonte natural. Da mesma forma, as águas do Dilúvio se originaram da chuva e de fontes naturais da Terra e inundaram o planeta progressivamente durante 40 dias.

Após esse período, as chuvas pararam, mas a Terra continuou coberta por água enquanto correntes poderosas se abatiam contra ela. Os últimos seres vivos a morrer foram os homens, pois D’us, em mais uma demonstração de misericórdia, deu uma última chance a eles: mesmo após o início do Dilúvio, a humanidade poderia mostrar-se arrependida e evitar ser destruída.

No primeiro dia de Sivan, o nível das águas começou a baixar; no dia 17 do mesmo mês, a Arca de Noé estacionou sobre as montanhas de Ararat. Finalmente, no primeiro dia de Av, os picos das montanhas se tornaram visíveis. Transcorridos 40 dias, na data de 10 de Elul, Noé abriu a janela da arca e incumbiu um corvo de investigar o estado do mundo. Mas o corvo recusou a missão e passou a circular a arca continuamente.

Sete dias mais tarde, Noé enviou uma pomba para averiguar se as águas ainda cobriam toda a Terra. A pomba, não encontrando lugar algum para repousar na superfície terrestre, voltou à arca. Mais sete dias se passaram e Noé novamente enviou a pomba. O pássaro retornou à noite, trazendo uma folha de oliveira. Isso era um sinal que o nível das águas havia baixado, pois as árvores não mais estavam completamente sub-mersas. Noé aguardou mais sete dias e enviou a pomba novamente; desta vez, o pássaro não retornou à arca.

No primeiro dia de Tishrei - data de Rosh Hashaná - as águas do Dilúvio começaram a desaparecer da superfície terrestre. Mas apenas dois meses mais tarde, no dia 27 de Cheshvan, é que a Terra secou por completo. O Grande Dilúvio inundara o mundo por 365 dias - exatamente um ano solar.

A volta à Terra

Mesmo tendo as águas do Dilúvio secado, Noé e sua família permaneceram na arca até que D’us ordenou-lhes que saíssem. O Zohar revela que Noé, ao ver um mundo destruído, virou-se para D’us e chorou. O Criador respondeu: “Tolo pastor! Eu te dei 120 anos para construir uma arca - tempo suficiente para que rezasses pelo mundo e o salvasses. Agora que o mundo foi destruído, choras a Mim?”

Após sair da arca, Noé constrói um altar para D’us e Lhe oferece sacrifícios. O Todo-Poderoso então promete que nunca mais destruirá todos os seres vivos, como fizera por meio do Dilúvio. O Criador abençoa Noé e seus filhos e lhes ordena: “Frutificai e multiplicai-vos e enchei a terra” (Gênese 9:1). Mas, vendo que Noé temia ter outros filhos, preocupado que, um dia, eles também perecessem num Grande Dilúvio, D’us lhe assegura que nunca mais haveria um dilúvio que destruísse todos os habitantes da Terra.

O sinal dessa promessa Divina foi simbolizado pelo arco-íris. Rashi explica que o arco-íris aparece no mundo quando D’us cogita enviar um outro Grande Dilúvio à Terra, mas não o faz por causa de sua promessa a Noé. Um sábio de nossa geração explicou que o aparecimento de um arco-íris não significa que o mundo inteiro está moralmente corrompido, como à época do Grande Dilúvio. Porém, é um sinal de que, em algum lugar da Terra, as pessoas são tão malvadas que D’us as destruiria, não fosse pelo pacto que fizera com Noé.

A Torá conclui a história da vida de Noé relatando que ainda viveu 350 anos após o Dilúvio. Faleceu aos 950 anos de idade, no ano 2006 do calendário judaico. O Midrash revela que o ano do Dilúvio, no qual Noé viveu na arca cuidando dos animais, não está incluído nessa contagem. D’us lhe deu um ano a mais de vida em recompensa por seu árduo trabalho na arca. Pois durante os 12 meses em que nela permaneceram, nem Noé nem seus filhos dormiram sequer um minuto. Foi mais um milagre Divino que lhes permitiu cuidar dos animais.

Com exceção dos peixes, todos os seres vivos da Terra, inclusive os pássaros, pereceram no Dilúvio. Todos os descendentes de Adão e Eva morreram. Apenas Noé, sua família e os animais na arca se salvaram. Coube a Noé e a seus familiares a missão e o mérito de repovoar o mundo. Os homens que viveram durante as primeiras 10 gerações do mundo são chamados de “filhos de Adão”. Depois disso, são chamados de “filhos de Noé”, que se tornara o Pai da Humanidade.

Bibliografia
• The Call of the Torah, An Anthology of Interpretations on the Five Books of Moses, Bereishis, Rabbi Elie Munk, ArtScroll Mesorah Series
• A Torá Viva - O Pentateuco e as Haftarot, por Rabino Aryeh Kaplan, Tradução por Adolpho Wasserman, Editora Maayanot
• Chumash - The Book of Genesis - The Gutnick Edition with commentary from Classic Rabbinic Texts and the Lubavitcher Rebbe
• The Torah Anthology, Genesis 1, MeAm Loez by Rabbi Yaacov Culi (1689-1732) traduzido pelo Rabino Aryeh Kaplan.
• Chasidah, Yishai, The Encyclopedia of Biblical Personalities, Shaar Press

“Foram três justos os pilares do mundo: Adão, Noé e Abrahão”
(Midrash Schocher Tov 34:1).

 

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MULHERES NA HISTÓRIA Estée Lauder, a rainha dos cosméticos "Beleza é uma questão de atitude. Não há mulheres feias - apenas mulheres que não se cuidam ou que não acreditam ser atraentes". A autora destas palavras, proferidas inúmeras vezes ao longo dos últimos 55 anos, é Estée Lauder, uma das maiores empresárias do setor de cosméticos do mundo. Tendo construído um império industrial de estética que promete sobreviver a sua criadora, Estée Lauder acumulou inúmeros títulos ao longo de sua vida, tornando-se uma espécie de lenda no jet-set internacional. Os convites para suas glamurosas festas eram intensamente disputados e sua lista de convidados incluía personalidades como Nancy Reagan e a princesa Diana, entre outras. Nas reportagens feitas após sua morte, em abril deste ano, há informações detalhadas e precisas sobre sua trajetória. A sua idade exata, no entanto, permanece envolta em mistério. Segundo a imprensa, teria entre 94 e 97 anos. Muito já se escreveu sobre esta mulher judia que saiu do bairro do Queens, em Nova York, e conquistou o título de "Rainha Americana dos Cosméticos", tornando-se uma das empresárias mais respeitadas no país. Já se disse até que, quando o então presidente norte-americano, Ronald Reagan, recebeu os príncipes Charles e Diana na Casa Branca, Lady Di (como era comumente chamada) pediu que três pessoas também estivessem presentes: o ator Robert Redford, o cantor Bruce Springsteen e Estée Lauder. Boatos à parte, a maneira singular e o dinamismo com que a empresária gerenciava seus negócios, desde o início de sua carreira, garantiram-lhe a admiração tanto dos amigos quanto de seus concorrentes. Sobre ela, há um consenso: Estée Lauder transformou a beleza em um grande negócio, cultivando métodos originais de vendas e distribuindo amostras grátis às clientes. Na verdade, foi pioneira na adoção desta estratégia, que atualmente é prática comum. Há quase 60 anos, no entanto, quando começou suas atividades, vendendo pessoalmente seus potes de cremes em salões de beleza, a idéia era quase uma heresia. O tempo, porém, mostrou que ela estava certa e seu exemplo tornou-se uma política de mercado em inúmeros outros segmentos, até nosso dias. Em 1988, Estée Lauder foi a única mulher em uma lista elaborada pela revista Time, com os 20 empresários mais influentes e geniais do século XX. Sua empresa ocupou a 349ª posição na edição de 2003 da revista Fortune que escolheu as 500 maiores empresas dos EUA. Além dos prêmios na área de cosmética, Estée Lauder recebeu em 1978, a Insígnia do Cavaleiro da Legião de Honra, concedida pelo governo francês; em 1979, a Medalha de Ouro outorgada pela cidade de Paris; em 1977, a "Crystal Apple", da Associação por uma Nova York Melhor; em 1968, o Albert Einstein College concedeu-lhe o "Medicine Spirit of Achievement". Em 1970, foi reconhecida por 575 editores financeiros e empresariais como uma das Dez Mulheres de Destaque no Mundo dos Negócios. Na filantropia, contribuiu assiduamente para um centro nacional de câncer e com a Liga de Manhattan. Sua família é também conhecida por apoiar instituições beneficentes judaicas e de outras minorias. No âmbito judaico, especificamente, entre os muitos projetos filantrópicos, a família Lauder tem investido generosamente no resgate de comunidades judaicas na Europa Oriental. Fundou escolas judaicas em Varsóvia, Praga e Budapeste e centros de juventude e acampamentos de verão, além de um centro judaico para a comunidade de Cracóvia. Enviou para a Hungria rabinos e educadores. Os Lauder nunca se esqueceram do Holocausto, no qual morreram todos os seus parentes, com exceção de uma tia que vivia na então Checoslováquia. Financiam projetos cujo objetivo é manter viva a memória do Holocausto. A família Lauder tem dado publicamente grande apoio ao estado de Israel e a várias instituições judaicas internacionais. Atualmente, a Estée Lauder Companies Inc. é uma das maiores empresas de produtos cosméticos do mundo. A matriz está localizada no 40º andar do Edifício General Motors, em Manhattan. No entanto, segundo seu filho, Leonard Lauder, principal executivo da empresa, quando Estée ainda estava à frente dos negócios, ela gostava de pensar que "cuidava de um lindo pequeno negócio" que responde por cerca de 45% do mercado de cosméticos das lojas de departamentos dos EUA, que está presente em cerca de 120 países e que, em 2003, aumentou seu faturamento em mais de US$ 3 bilhões. Sua linha de produtos inclui cremes, hidratantes, loções, sabonetes, para o rosto e para o corpo, maquiagem, perfumes e fragrâncias. Sua produção é vendida sob marcas internacionalmente conhecidas como Aramis, Clinique, Prescriptives, Origins, M•A•C, Bobbi Brown Essentials, Tommy Hillfiger, Jane, Donna Karan, Aveda, La Mer, Stila, Jo Malone, Bumble and Bumblem, além da própria marca Estée Lauder. A empresa foi fundada nos EUA em 1946; em 1960 foi aberta uma filial em Londres (Grã-Bretanha), para atender o mercado europeu, africano e do Oriente Médio; no ano seguinte, foi a vez da abertura de um escritório em Hong Kong, cuja meta era atingir o mercado asiático e da região do Pacífico. O patrimônio industrial da família Lauder está avaliado em aproximadamente US$ 6 bilhões. Do Queens para o mundo Nascida Josephine Esther Mentzer, em 1 de julho de 1908, na comunidade de Corona, no subúrbio nova-iorquino de Queens, era a caçula da uma família que incluía seis irmãos - seis homens e uma mulher. Seu pai, Max - judeu de origem húngara - era um alfaiate que abriu mão de sua profissão quando comprou uma loja de ferragens, no bairro onde viviam, e sua mãe Rose (Schotz Rosenthal) era imigrante húngara. Criada no apartamento que havia sobre a loja, a jovem Josephine costumava ajudar o pai a arrumar a mercadoria nas prateleiras e a decorar as vitrinas. Foi com a mãe, no entanto, que a então futura empresária desenvolveu a idéia de que a mulher deveria ser bela. Foi com Rose que ela aprendeu a importância de cuidar da pele. Foi ela quem lhe falou dos danos que o sol poderia causar, assim como era ela quem usava luvas e guarda-chuva para se proteger dos raios solares. Ela se lembraria das palavras maternas pelo resto de sua vida. Em sua autobiografia, Estée: Uma História de Sucesso, de 1985, recordaria o interesse que tinha pela beleza desde a infância, ressaltando que podia ficar horas penteando os longos cabelos de sua mãe e passando creme em sua face. Então adolescente, continua o livro, tornou-se fascinada pelo irmão de sua mãe, John Schotz, que era químico e costumava preparar cremes para o rosto em um laboratório caseiro que montara em um estábulo, atrás da casa onde viviam. "Costumava ficar observando-o enquanto ele trabalhava nas fórmulas, preparando uma loção cremosa que tinha um cheiro maravilhoso", escreveu Estée. Foi seu tio quem lhe ensinou a preparar o creme para a face, ao qual batizou de "Super-Rich All Purpose Cream", e vivia testando-o na família e nos amigos. Nos anos seguintes, dedicou-se ao aperfeiçoamento do produto criado por John. Seus primeiros clientes foram Florence Morris, a proprietária de um salão de beleza no Upper West Side, e suas freguesas. Tinha encontrado uma platéia cativa e interessada em ver o que ela tinha para mostrar. Quando Florence abriu um salão novo na região de Upper East Side, ela conseguiu a concessão para os produtos de estética e, assim, expandiu seus negócios, passando a levar os cremes para residências e hotéis. Desde o início, Estée Lauder sempre distribuiu amostras grátis, pois acreditava que os produtos eram mais eficientes do que as palavras. No mesmo livro fala, também, da escolha do nome com o qual se tornou internacionalmente conhecida - Estée. Segundo a narrativa, seus familiares costumavam chamá-la pelo apelido "Esty" (cuja pronúncia correta seria És-ti). Um dia, no entanto, um funcionário da escola pública na qual estudava a chamou de "Estée", maneira pela qual acabou sendo sempre identificada pelos colegas, adotando, então, o apelido. Enquanto se dedicava aos negócios, em janeiro de 1930, Estée se casou com Joseph H. Lauter, filho de Lillian e William Lauter, imigrantes judeus vindos da Galícia. O casal posteriormente mudou o nome para Lauder. Seu primeiro filho, Leonard, nasceu três anos depois. Em 1939, eles se divorciaram, mas voltaram a se casar em 1942. Ronald, o segundo filho do casal, nasceu em 1944. Dois anos mais tarde, surgia a Estée Lauder Inc. Enquanto ela cuidava do marketing e das vendas, seu marido se ocupava do setor administrativo-financeiro. Começaram vendendo quatro produtos para a pele: um óleo de limpeza, uma loção nutritiva, o creme "Super-Rich All Purpose" e uma linha de maquiagem que incluía pó de arroz, sombra para os olhos e batom. As embalagens eram de um azul tão singular e característico de seus produtos que o tom ficou conhecido como "Azul Lauder", além de se tornar um dos símbolos mais fortes da empresa. Apesar de anos mais tarde, em sua autobiografia, a empresária lamentar ter dado mais atenção aos negócios de que à família, seu filho Leonard lembra, com saudades, que durante sua infância, no Shabat, sua mãe, Estée, a incansável mulher de negócios, voltava a ser uma idische-mame e preparava, ela mesma, o jantar, com a indefectível sopa de galinha à qual atribuía propriedades terapêuticas. Leonard conta, ainda, que sua mãe tinha três paixões: a família, a maravilhosa empresa que fundara e a missão de levar a beleza às vidas das mulheres onde quer que fosse. Em 1984, ela e mais sete senhoras foram escolhidas como "Mães-Destaque" do ano. A grande virada na história da empresa aconteceu em 1948, quando a loja Saks, da Quinta Avenida, em Nova York, fez um pedido de US$ 800 - quantia significativa para a época, e vendeu toda a mercadoria em 48 horas. A partir daí, cada um dos seus lançamentos veio acompanhado de sucesso. Em 1953, mais um marco na trajetória da incorporação - a introdução no mercado da primeira fragrância com o selo Estée Lauder, o "Youth Dew", um óleo de banho com um cheiro tão suave que podia ser usado como perfume. Resultado: foi o perfume mais vendido do mundo, durante anos. Determinada a atingir um número cada vez maior de mulheres, Estée Lauder lançou-se à conquista de outros mercados, além do norte-americano. Conta-se que, um dia, acidentalmente, espirrou algumas gotas da fragrância "Youth Dew" no chão da Galeria Lafayette, em Paris. O cheiro espalhou-se pela loja e as clientes começaram a se perguntar que perfume era aquele. A empresária norte-americana marcava mais um tento na sua escalada, dando os primeiros passos no mercado europeu nos anos de 1960. Foi também na década de 1960 que começou a produzir uma linha masculina. No mesmo período, seus filhos Leonard e Ronald e suas noras começaram a trabalhar na empresa. Em 1973, Leonard assumiu o cargo de presidente da sociedade e seu marido Joseph tornou-se presidente executivo. Ela assumiu a função de presidente do Conselho, passando a se dedicar cada vez mais às atividades sociais. Em 1982, Ronald tornou-se CEO e Leonard foi nomeado presidente da Lauder International, que responde por mais da metade do volume total de vendas da empresa. Em 1983, seu marido, Joseph, falece. Em 1994, Estée Lauder afasta-se do mundo dos negócios. Ao longo da trajetória da empresa, Estée procurou participar ativamente de cada uma de suas etapas. Foi responsável direta pelo desenvolvimento e lançamento dos perfumes Azurée, em 1969; Aliage, a primeira fragrância da categoria "esportiva" do mundo, em 1972; Private Collection, em 1973; White Linen, em 1978; Cinnabar, em 1978; e Beautiful, em 1985. Apenas os membros da família conheciam as fórmulas de cada fragrância. A originalidade e a determinação da empresária de oferecer inovações às clientes fizeram até com que encomendasse aos cientistas da Nasa um produto com características nutritivas à base de algas marinhas. O resultado foi o "Creme de la Mer". Vaidosa até o final de sua vida, procurando sempre aparecer em público na melhor forma, Estée Lauder, certamente, foi uma das responsáveis pelas grandes inovações na cosmética internacional. Bibliografia: Slater, Elinor e Slater, Robert, Great Jewish Women "Estée Lauder", artigo publicado na edição de 1º de maio da revista The Economist Edit Text

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