O homem lógico

Matemático, discípulo de Malba Tahan, cria método que populariza a ciência e tenta revolucionar o ensino

Cristian Góes, de Aracaju/SE

 Pode acreditar. A Matemática não vai ser mais a mesma depois de Jonofon Sérates. Esse professor vem revolucionando a ciência que é considerada um verdadeiro terror nas escolas. Jonofon criou o método do Raciocínio Lógico de ensino, que prefere chamar de "Cuca Legal". Por ele, uma pessoa comum é transformada em poucas horas num papa em Matemática ou quase isso. Jonofon diz mais: o Raciocínio Lógico é cheio de desafios e prepara o ser humano para o próximo milênio. "Até agora tivemos o século das máquinas e da tecnologia. O primeiro século do próximo milênio vai ser o do pensar. Vai vencer aquele que tiver instrumental, pensamento lógico, quem for criativo e inovador", sentencia o professor.

Jonofon diz que a escola está gagá, com currículos de 50 anos atrás. "O professor continua em sala de aula com cuspe e giz, a despeito de toda a tecnologia", afirma. Ele lembra que os fatores externos à escola são fontes motivadoras muito mais fortes e que os alunos não gostam da Matemática porque não a entendem. "Matemática não é decoreba". Jonofon detectou que os estudantes sofrem quatro doenças matemáticas: tabuadite aguda, fraçãozite grave, virgulite e a quarta é uma epidemia - raciocínio lento e preguiçoso. "Nunca se precisou tanto de raciocínio lógico como nos dias de hoje", acredita ele. Mas que é Jonofon Sérantes? Ele foi batizado de José Nogueira Fontes, um sergipano que mora em Brasília há mais de 30 anos e é bacharel. Mestre e doutor em Matemática. Quando fez o vestibular para a Universidade Federal de Sergipe, foi o primeiro lugar geral e acertou 99 das 100 questões em Matemática. Hoje é professor dos cursos de Pós-Graduação da Fundação Getúlio Vargas, mas vive também de escrever e fazer palestras.

Perguntado sobre sua idade, o professor diz que tem dois elevado à sexta potência. Depois entre risadas, facilita: "Oito ao quadrado". Para quem ainda não descobriu, dá 64 anos. Jonofon ficou conhecido em todo o Brasil depois de duas entrevistas no Jô Soares onze e meia, com intervalo de apenas 14 dias entre elas, nos dias 14 e 28 de julho passado. "Em dez anos de programa, nunca tive de convidar de novo uma pessoas em tão pouco tempo," disse Jô, reforçando o "fenômeno Jonofon". Autor de 12 livros - o mais famoso Raciocínio lógico matemático (Editora Olímpica), já na quinta edição - , Jonofon foi aluno e assistente de Malba Tahan, o autor de O Homem que Calculava e de outras 115 obras. Foi Tahan quem transformou José Nogueira Fontes em Jonofon Sérates. O sergipano escreveu artigo, chamado "Amor geométrico", em que um hexaedro enamorou-se de uma esfera. Malba Tahan, que o chamava de Fontes, leu, gostou e o levou para ser publicado no Correio da Manhã (em 1956, o jornal de maior circulação do Rio de Janeiro). "Eu assinei como José Nogueira Fontes. No domingo, encontrei o artigo de Malba Tahan, mas o meu não havia saído. Eu fui à casa dele e contei. Ele riu e disse: ‘Eu sabia que não ia sair, porque quando eu era Júlio César de Melo e Souza meus artigos também não saíam. Quando eu passei a ser Malba Tahan, todo artigo que eu escrevia o jornal aceitava.’ Ele mudou meu nome", lembra.

Malba Tahan pegou o JO de José, o NO de Nogueira e o FON de Fontes, fez Jonofon. Em seguida, ele pegou as últimas sílabas de JoSÉ, NogueiRA e FonTES e fez Sérates. "Ele disse: ‘Pronto, agora você é espanhol, de origem grega, nascido em Sergipe’. Virei Jonofon Sérates, explica. Lembra que a matemática não é só números. "Antigamente estudava-se, Lógica para aprender Filosofia. Depois, a Matemática para aprender as outras ciências. De Isaac Newton para cá, a Matemática foi se aproximando da Lógica. Com a Filosofia moderna, aproximaram-se mais ainda. Ninguém ama a vida mais do que eu, porque eu amo a vida matematicamente", afirma. Ele começou a estudar Matemática com prazer aos 12 anos, no grupo escolar, onde havia sabatina e palmatória. "Eu não queria apanhar, queria bater, então estudava a tabuada para bater nos colegas. Havia uma motivação negativa imposta pela régua, pelos castigos." Depois, notou que fazia todos os tipos de conta, mas não tinha facilidade de resolução de problemas. "Procurei entender a lógica e aí pude compreender melhor as belezas da Matemática. É o aprender que faz gostar", frisa Jonofon.

Para aplicar sua teoria, Jonofon esteve até na África. Foi mandado pelo Ministério da Educação e lá passou seis meses. Deram-lhe uma turma de 30 alunos e ele garantiu que em 50 minutos todos teriam aprendido a tabuada de multiplicar. "Só gastei 40 e eles aprenderam. É a metodologia "jonofoniana", própria para ensinar tabuada", festeja o professor, que desde 1979 vem desenvolvendo o "Cuca Legal".

Revista IstoÉ - 9/9/98

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