UM POUCO DE HISTÓRIA
SOBRE O RÁDIO CONTROLE EM SÃO PAULO
Edmar
Mammini
O
que será citado aqui é produto de memória e não
de pesquisa, portanto sujeito a erros, não graves
mas
sempre erros. Portanto desculpem certas falhas, mas é melhor
isso do que nada. No inicio dos anos 50 uma pessoa de nome “Ernest Konrad”
conseguiu montar um kit americano de rádio controle que funcionava,
não lembro a marca. O avião era um Pipper Cub com 2,40 de
envergadura de asas, de propriedade do Sr. Felice Cavalli.
Era possível se voar em Congonhas, não na pista principal mas na secundária que era chamada de 16. (?) A segunda pessoa que montou um rádio controle foi o Sr. José Mendes , e a terceira fui eu.Os rádios eram montados e não feitos e sempre foram, dado que os componentes eram importados -todos- ,donde, dizer que fez um rádio era pura mentira. Falando em técnica da época, e vale a pena saber, para quem entende de radiotécnica, é um prato cheio.
Os
rádios eram da seguinte forma: Transmissor; normalmente usava-se
uma válvula 3A5, que era um duplo triôdo, com tensão
de placa de 67,5 V e 1,5 ou 3 de filamento. Era um oscilador livre sem
comando a cristal,
e
usava-se um circuito flip-flop como se fosse um multivibrador atual.
A potência irradiada era da ordem de
3
Watts , a freqüência da ordem de 27,255MHz, não
possuía modulação . O sistema de transmissão
era comutar a portadora, cada comando dava-se um pulso de RF (rádio
freqüência ).
O
receptor era do tipo regenerativo, as válvulas mais usadas eram,
RK-61 ou XFG-1, eram triodos a gás, muito
sensíveis
e seu ganho era enorme, ela estava diretamente ligada a um relê que
marcou época era o Sigma 4F,
era
um relê ultra sensível, possuía uma resistência
ôhmica da ordem de 5.000 e estava diretamente acoplado
a
corrente de placa.A tensão de placa era de 22,5V e de filamento
1,5 V. Vale a pena se lembrar que transistor
era
uma invenção nova e que não havia chegado ao mercado,
era simplesmente uma novidade em estado de
experiência.
Os
rádios não possuíam servos, o que dava o movimento
aos lemes eram dispositivos chamados em inglês de
“scapement”;
esse dispositivo era composto de uma catraca de quatro tombos e cuja torção
era tocada a elástico
torcido
-o mesmo elástico que se usava na época para virar hélices
de certos aero- modelos. Os primeiros rádios só possuíam
um canal e não proporcional, era assim --- um pulso era direita
,outro centro outro esquerda, outro centro e assim sucessivamente.
Era necessário ser bom de dedo para pilotar um aeromodelo. O comando era no leme de direção e não no aileron. A primeira loja a importar kits de RC (rádio controle) foi a Mobral era na Rua Marques de Itu, e não lembro o número; isto em 1954. Mobral era Modelismo do Brasil e não o malfadado movimento de alfabetização de adultos do regime de exceção. Eram da marca “Lorenz” ( made in USA) .Cheguei a montar alguns deles e todos funcionavam bem até a uma distância de 500 m .
A
partir de 1956 começaram a chegar ao Brasil rádios já
prontos para se instalar e voar, haviam algumas marcas,
a
saber De Bolt , Babcock, Heat, Avionics e outros que não
me lembro. A onda começou a pegar mesmo em 59/60 quando apareceram
o primeiro proporcional de um único canal da Babcock, o Aristo Kraft
com modulação em AM, o ED ( eletronics developments)
era inglês, foi o primeiro rádio de três canais não
simultâneos, com modulação em AM e com filtro de tom
mecânico era “Reed Banks” sistema que pegou bem no mercado
e durou até a entrada em operação do proporcional.
Os
alemães entraram com toda a força com um rádio mono
e um tri-canal com uma inovação enorme, embora
a
válvulas, usavam pilhas comuns de 1,5V do tipo grande com
9 pilhas. O receptor usava 6 de 1,5 V da pequena e alimentava também
os servos. Sua marca “Metz Mecatron”. Nos outros rádios usava-se
1 pilha para o filamento
1,5
V, uma pilha para a placa 22,5V e 4 pilhas de 1,5 para os servos ou catracas.
Os alemães inovaram e venderam muito na época. Mas
não sei porque sumiram do mercado.
Em
1957 eu pus o primeiro rádio em um modelo de barco, só controlava
o leme e era com servo, copiado do Babcock. Em 1959 instalei um ED de três
canais sendo dois para o leme, sim lógico, os rádios não
eram proporcionais e assim não seria necessário a seqüência
poderia se dar esquerda e direita quantas vezes
fosse
necessário. O outro era motor; liga e desliga. No inicio dos anos
60 começaram a aparecer os rádios
de
duplo comando ou seja já se podia acionar dois comandos de uma só
vez. Possuíam de 6 a 12 canais não
proporcionais.
Os mais conhecidos eram Orbit, OS (japonês) ,e Kraft.
Na
mesma época a Babcock aparecia com o “galoping goast” foi
o primeiro proporcional e ainda a válvula,
logo
em seguida passou a ser válvula na RF e transistor no áudio.
O Kraft copiou mas o sistema não pegou
porque
comia pilhas; em 15 minutos ia um pack. Nos anos 68/70 apareceram
no Brasil os primeiros rádios
totalmente
transistorizados e proporcionais sua marca “Bonner” USA, mais ou
menos como os de hoje, com
dois
stics de uma função e em seguida o Orbit com um stic de três
funções mais um botão não proporcional.
O
primeiro rádio com a conformação dos de hoje com dois
stics de duas funções, e mais outros botões
de funções proporcionais foi o Kraft. Foi o rádio
mais usado na época. Custava caro, cerca de 600 US Dollar.
Nessa
época duas firmas tentaram vender rádios em kits para montar
e era proporcional , eram a Micro-Avionics e a HeatKit, não colou
em parte alguma do mundo e elas sucumbiram.Em 1970 apareceu o primeiro
rádio Futaba, também na mão do Cavalli da Mobral
mas ele não se deu conta de que tinha um quinhão na mão,
lhe estavam oferecendo a representação para o Brasil.
Nessa
época apareceu uma firma japonesa montando rádios no
Brasil , era uma firma que montava rádios
para
automóveis seu nome não lembro, e seu rádio era o
Sanwa japones. A Aerobras representava a OS
tanto
com motores como rádios, e no momento o quente era ter um Kraft.
Futaba era um ilustre desconhecido.
Com
o passar dos anos , ou melhor após os anos 70 pouco ou nada se inovou
nos rádios em comparação com os
primórdios,
sofisticaram e melhoraram as performances, mas em termos, são todos
iguais desde então.
A
única inovação que realmente acho que valeu a pena
é o PCM (pulse code modulation) , esse sim é um rádio
micro
processado que tem uma grande imunidade a interferência externas
ou mesmo internas, não se livra de
outro
na mesma freqüência nunca, mas é bem mais confiavel do
que qualquer outro rádio que já apareceu até
o
presente momento. Hoje em dia falar em rádio controle é falar
em Futaba, os demais sequer eu sei o nome
e
se existem representantes no Brasil deles.