GAIOLAS DO RIO SÃO
FRANCISCO
Edmar
Mammini
Gaiolas
do Rio São Francisco, assim eram chamados os barcos fluviais, com
rodas traseiras para tração, que
foram
importados dos USA entre os anos 1910 e 1913 para navegarem no rio da integração
nacional. Neste artigo vamos comentar dados e fatos tanto do barco verdadeiro
como o do seu modelo, que foi construído pelo autor do artigo
entre os anos 1986 e 1989.A Companhia de Navegação
do São Francisco (que existe ainda hoje) importou da firma “Marine
Iron Works” dChicago USA, entre os anos acima referidos, três barcos,
em “kits”para montar, -como se fossem modelos reduzidos - que nós
modelistas costumamos comprar; e montaram os barcos . A população
ribeirinha os apelidou de -Gaiolas- devido a uma certa semelhança
destes com as gaiolas que eles transportavam aves.
O
que intriga o autor é , como levaram os kits rio acima, sendo que
, existe a cachoeira de Paulo Afonso no percurso, se alguém tiver
dados a respeito por favor envie-os ao nosso site ou entre em contato conosco.
A peça de maior peso é a caldeira, e essa sem dúvida
já vinha montada e pesava entre 8 e 10 toneladas, como será
que fizeram ... , penso terem sido levada em carros de boi, não
havia outro meio naquela época. Os gaiolas faziam o percurso entre
a cidade de Pirapora em Minas Gerais e a cidade de Remanso
na Bahia, onde atualmente existe o lago artificial de Boa Esperança.
Remanso ficou em baixo d’água.
Os
barcos originais eram feitos de madeira tratada, não pegavam pragas
como gorgulhos ou cupins, suas máquinas eram a vapor. Possuíam
caldeira para queimar lenha, é um tipo especial, devido ao baixo
teor calórico da mesma, essa caldeira era do tipo Locomotiva,
assim chamada porque era igual as das locomotivas de trem. O sistema motriz
era de dois cilindros de simples expansão, distribuição
“Joy” e válvulas a gaveta. Os cilindros possuíam 8 polegadas
de diâmetro com um curso de 42 polegadas e desenvolvia uma potência
de 75 HP à 120 PSI - pound square inch -
(libras por polegada quadrada) O combustível como já citado
era lenha, que pegavam ao longo do rio. (Não sabiam o mal que estavam
causando ao meio ambiente).
Devido
a essa devastação da mata ciliar, o rio começou a
se assorear, prejudicando a navegação atualmente.
Existe
ainda um remanescente destes barcos e se chama “Benjamim Guimarães”
se tornou um museu, não funciona mais. Nos anos 87 e 88 tentou-se
sem êxito pô-lo em funcionamento para uso turístico,
mas não deu certo por razões típicas de nossa cultura.
Não conservar nada. Usar até acabar de vez. Não sei
dizer onde está mas em algum lugar próximo a Pirapora
em Minas Gerais.
O modelo
Foi
muito desgastante para mim conseguir a planta do barco com dados suficiente
para construi-lo. Fiquei mais de dez anos em busca de um desenho digno
de fé, inclusive me comunicando com os ex-fabricantes, mas nenhum
possuía desenho desse modelo de barco em seus arquivos. Quem finalmente
conseguiu e sei lá como,
foi
o Sr. Alvanir Carvalho, notório modelista do Rio de Janeiro. O desenho
original é do “ Moiye of Vancouver”
que
não é exatamente o Benjamim Guimarães mas sem dúvida
seu irmão, não gêmeo, mas muito parecido.
O
barco original foi feito para uma companhia de mineração
Canadense , que faliu, e o barco veio parar no Brasil, histórias
típicas nossas, sabe Deus como! Com os desenhos em mãos comecei
a fazer o modelo pelo casco, que é em fibra de vidro e resina poliéster
comum. Depois veio a maquinaria, caldeira e cilindros como o original,
salvo
certas proporções que é impossível fazer igual.
O motor foi todo feito pelo autor e é em bronze , latão ,
aço inox e aço liga. A caldeira é toda em cobre ,
soldada a prata, é idêntica em proporções a
original, salvo o número e diâmetro de tubos de fumo, queima
gás liqüefeito de petróleo, isso devido a não
se ter conseguido fazer um foguista em miniatura para ficar jogando
lenha na fornalha. Se não ? ! quem sabe?
A
roda motriz é toda feita em madeira marfim e fenolite, é
toda parafusada como a original, possuindo 96
parafusos
e porcas com 1mm de diâmetro e chave de 2,2 mm. O modelo se chama
“Delmiro Gouveia” por dois
motivos,
1º em honra a esse homem , prócer do empresário nordestino,
2º por ser o nome de um dos barcos que
por
lá navegavam. A super estrutura do modelo foi toda feita em madeira,
parte em madeira marfim e parte em compensado de ,2mm de mogno .
Os botes salva-vidas são em acrílico repuxado, a chaminé
externa é de fenolite e a interna de alumínio. Como o original
o modelo tem uma carranca para espantar os caboclos d’água, não
se esqueça que ele navega no interior da Bahia. A carranca foi moldada
em Durepoxi.
No
rádio controle usa-se quatro canais assim distribuídos
; 1 - leme de direção; 2 - velocidade do motor; 3- reversão
(avante e atrás) e 4 - apito. Quanto ao apito
vale uma nota especial, o barco verdadeiro possuía um apito igual
ao de trem a vapor, enfim apito de locomotiva, e o modelo tem um apito
com o mesmo tipo de som, esse som foi conseguido colocando-se um apito
de trenzinho Lionel , bitola zero, com mais de 50 anos de idade.
Se se fizesse um apito a vapor, devido as dimensões não se
conseguiria um timbre igual a esse que é elétrico;
funciona
com as baterias do rádio controle. O modelo está em uma escala
inglesa de 7/16 avos de polegada igual
a
um pé, o que dá mais ou menos a relação
métrica de 1:27 e possui as seguintes dimensões: comprimento
total
inclusive
a roda 1,72 m; boca máxima 34cm ; pontal 12 cm ; calado máximo
6 cm; altura máxima (chaminé) 63cm; peso ou deslocamento
12 kg.
As
tintas usadas nas pinturas são todas a base de nitro celulose, inclusive
a seladora para o tratamento da madeira . A autonomia de funcionamento
depende da velocidade a que se navega e esta varia entre uma e duas horas
onde então acaba um dos itens como a água que alimenta a
caldeira, o gás combustível ou o óleo de lubrificação.
A velocidade máxima sem problemas de manobras é de 4 km por
hora.O modelo já ganhou prêmios famosos, como : o Melhor
Modelo Civil apresentado por ocasião do concurso da Escola Naval
do Rio de Janeiro em 1992, o foi o vencedor do 2º Festival
Niteroiense de Nautimodelismo em 1990 também como melhor modelo
apresentado, foi o Melhor Modelo em Escala de 1989 do Clube
de Nautimodelistas de São Paulo.
DELMIRO
GOUVEIA
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