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      1 - As Leveduras
 

      Leveduras são organismos eucarióticos unicelulares pertencentes ao Reino Fungi. Não móveis, aclorofilados, quimiossintetizantes. Capazes de se reproduzir sexuada e assexuadamente, a forma mais comum de divisão celular é por brotamento e fissão. De distribuição ubíqua, encontram-se entre folhas, flores, frutos, solo e insetos seus habitats mais freqüentes. O início da história da levedura é desconhecido. Presume-se que este microrganismo participa na alimentação do homem desde que este vivia da coleta de frutas. Mais tarde, quando a prática agrícola se estabeleceu, as colheitas eram processadas em bebidas e alimentos, onde leveduras constituíam parte essencial destes artigos. Os esplendores do Antigo Egito incluem uma abundância de papiros e esculturas em pedra e madeira que descrevem a vida cotidiana. Dentre estes últimos incluem-se modelos de panificadoras e casas de fermentação. Uma cena fascinante é do painel da tumba de Nakhti (2000 a.C.) que representa a colheita de uvas, a prensagem dos bagos, a coleta do suco e sua estocagem em ânforas. Um papiro de 2700 a.C. lista um menu para a refeição celestial para um Faraó, e dentre os alimentos e bebidas citados estão diversos tipos de vinhos e cervejas bem como variados tipos de pães. Por volta do início do século X, os árabes desenvolveram o processo de obtenção do álcool através da destilação de um fermentado. Este álcool era utilizado em medicamentos com ervas medicinais. O alquimista catalão Arnaud Villeneuve, em 1250 registrou suas experiências num volumoso tratado sobre o álcool e suas utilizações. Divulgadas suas idéias, o autor caiu em desgraça com a Santa Inquisição, que mandou sacrifica-lo na fogueira como bruxo. Por sorte, Arnaud não só não foi queimado como também consagrou-se, pois a uma de suas poções foi atribuída a cura do então Papa. A partir da elucidação do significado da fermentação em anaerobiose por Pasteur em 1850, as leveduras tornaram-se mais inseparáveis das atividades da humanidade. Nas últimas décadas observou-se um aumento maciço no uso de leveduras como modelo de organismo eucariota para o estudo de fenômenos celulares fundamentais, devido ao aumento dos conhecimentos a cerca de seu genoma, principalmente em Saccharomyces cerevisiae , e o fato deste genoma poder ser manipulado criando cepas transformadas capazes de expressar uma determinada característica desejada. Assim, genes humanos vem sendo introduzidos em células de levedura a fim de produzir proteínas como o hormônio do crescimento, insulina, e interferem para o tratamento do câncer. O projeto Genoma, que visa sequenciar todo o genoma humano, tem comparado as sequencias de DNA recem sequenciadas com as de que teve seu sequenciamento completo em 1997, e ambas tem apresentado por vezes uma similaridade surpreendente, esta homologia abriu novos horizontes para o estudo das bases moleculares de diversas enfermidades metabólicas. Tais descobertas, e muitas outras, ilustram a indubitável importância da levedura, como célula modelo, no desenvolvimento da ciência, em particular da Bioquímica.
 

      2 - A História da Cerveja
 

      Acredita-se que a cerveja exista há pelo menos 6000 anos. Data aproximada da mais antiga referência de sua fabricação: "O Monumento Azul". Um baixo relevo feito em pedra, que mostra como os sumérios produziam cerveja para oferecer à sua deusa "Nina". Encontrado no Oriente Médio, hoje ele está em exposição no Museu do Louvre, em Paris. Além dos sumérios, assírios e babilônios, os chineses, gregos, romanos e egípcios também foram grandes cervejeiros.
      A cervejaria mais antiga que se conhece foi descoberta recentemente por arqueólogos no Egito. Ela data de 5400 anos a. C. e produzia vários tipos de cerveja. Como por exemplo, a "cerveja dos notáveis" e a "cerveja de "Tebas".
      A cerveja produzida naquela época era bem diferente da de hoje em dia. Era escura, forte e muitas vezes substituía a água, sujeita a todos os tipos de contaminação, causando diversas doenças à população.  Mas a base do produto, a cevada fermentada, era a mesma. Ela já fazia parte do cardápio da humanidade desde o começo das primeiras civilizações mesopotâmicas.
      Nessa mesma época, a cerveja era utilizada como moeda para pagar os trabalhadores e também como produto de beleza para as egípcias, que acreditavam em seus poderes de rejuvenescimento.
      Na Idade Média, a cerveja passou a ser produzida nos mosteiros e foram os monges católicos que deram a ela o aroma e o sabor que conhecemos hoje. Outra grande contribuição dada por eles foram as receitas escritas. A partir delas, pode-se preservar a qualidade da cerveja e aperfeiçoar cada vez mais as técnicas de fabricação.
      Os mosteiros mais antigos que iniciaram a produção de cerveja foram os de Sr. Gallen (Suíça), Weihenstephan e St. Emmeran (Alemanha). Weihenstephan é a cervejaria mais antiga do mundo em funcionamento e é hoje conhecida, principalmente, como o centro de ensino da tecnologia de cervejaria da Universidade Técnica de Munique.
      A primeira regulamentação do processo de fabricação de cerveja ocorreu na Baviera em 1516, pelo Duque Guilherme IV. Foi ele que decretou a Lei da Pureza, a mais antiga e conhecida do mundo. Essa lei determina que os ingredientes que podem ser usados na fabricação de cerveja são: cevada, lúpulo e água. A levedura de cerveja ainda não era conhecida na época e, somente mais tarde, foi incluída na lei. Louis Pasteur foi responsável por uma revolução na indústria da cerveja. Seus estudos publicados em 1876, sobre fermentação de microorganismos, resultaram na pasteurização, uma técnica bastante utilizada na fabricação da cerveja, pois permite o transporte à grande distância e maior durabilidade do produto.
     Em Pilsen, uma cidadezinha da República Tcheca, os cervejeiros deram outra contribuição fundamental com a descoberta da baixa fermentação, em 1839. Depois dela, a cerveja passou a ter uma cor clara, um sabor mais suave e uma maior duração para o consumo. A novidade trouxe uma importante mudança no hábito de tomar cerveja: as canecas de cerâmica foram substituídas por copos de vidro transparentes que permitiam ver o belo líquido dourado com sua espuma.
      Em 1883 aconteceu um importante avanço tecnológico. Emil Hansen descobriu que o isolamento da célula de baixa fermentação permitia a constância do sabor e da qualidade da cerveja. Outra descoberta tecnológica importantíssima para a indústria da cerveja foi a teoria da geração de frio artificial, com máquinas frigoríficas a base de amônia, por Carl Von Linde. Isso possibilitou que a produção da cerveja fosse feita em qualquer época do ano, pois antigamente só era possível controlar as temperaturas de fermentação e maturação no inverno.
      A partir do século XIX, os cientistas tiveram um importante papel no melhoramento da qualidade da cerveja. Os cervejeiros passaram a ter, cada vez mais, a assistência de técnicos para melhorar seus equipamentos. Daí o aperfeiçoamento das cervejarias não parou mais.
      No Brasil, a primeira aparição da cerveja foi no século XIX, época do reinado de D. João VI. Nesse tempo ela era importada da Inglaterra. Só no final do mesmo século é que surgem as primeiras cervejarias brasileiras.
      No século XX, com a industrialização e comercialização em grande escala, a indústria cervejeira brasileira cresce e se fortalece. Desde então, muitas marcas de cerveja vieram.
 

      3 - Desenvolvimento
 

      A cerveja é o resultado da fermentação alcoólica preparada de mosto de cereal maltado, geralmente a cevada. Também pode-se adicionar mais de um cereal (milho, arroz, aveia ou trigo), com as sementes germinadas ou não. Sabe-se que o cereal mais importante para a boa qualidade da cerveja é a cevada. Ao mosto de malte é acrescentado ainda lúpulo e levedura (fermento cervejeiro). Essa é a fórmula básica para a produção de qualquer tipo de cerveja, cujo teor alcoólico varia de 3 a 8%.
      Para chegar ao produto final no ponto para ser consumida o processo de produção (tanto industrial como o artesanal), passa por 5 fases: maltagem da cevada, secagem do malte e eliminação das radículas, moagem grossa do malte, bassagem ou mosturação, cozimento com o lúpulo. A composição básica da cerveja é: 91% de água, 4% de álcool (variável de um tipo para outra), 0,60% de gás carbônico (CO2)e 4,4% de extrato de malte e lúpulo. O álcool na cerveja surge através do processo natural da fermentação, do mesmo modo quando o gás carbônico (CO2). O gás carbônico (CO2) é muito importante na formação de espuma e contribui na estabilização do sabor da cerveja, além de ser um conservante natural.
      As cervejas "claras e escuras" possuem grande valor nutritivo, sendo um alimento facilmente assimilado pelo organismo. Um litro de cerveja proporciona ao organismo entre 400 e 450 calorias, o que corresponde a 1/6 das necessidades calóricas diárias para um adulto. As cervejas são consideradas reconstituintes e aperientes, pois estimulam a formação de suco gástrico no estômago. Seu valor nutritivo é devido aos carboidratos, proteínas e álcool. Um litro de cerveja eqüivale a, por exemplo, 3/4 de litro de leite, a 6 ovos, a 500g de batatas ou a 70g de manteiga.
      Os sais minerais também estão presentes na cerveja em quantidade consideráveis. O organismo humano necessita cerca de 3,9g de sais minerais, a cerveja contém em torno de 0,4g por litro.
      Quanto as vitaminas, a cerveja é considerada rica em Complexo B, riboflavina, niacina, peridoxina e ácido pantotenico.
      A afirmação de que a cerveja é "pão líquido", que se conhece desde a Idade Média, faz sentido, pois os constituintes provenientes dos cereais se encontram tanto no pão quanto na cerveja. Sabe-se também a respeito do efeito diurético da cerveja  que é nitidamente superior ao da água.Vários grupos de compostos (ácidos orgânicos, polifenóis, ácidos nucléicos,voláteis da fermentação) favorecem a diurese. A proporção entre potássio e sódio na cerveja, que é de 4:1, é também em parte responsável pelo seu efeito diurético.

      3.1 - Espuma
 

      A espuma se forma devido ao gás carbônico. A cerveja possui substâncias dissolvidas que são capazes de formar pequenas bolsas elásticas que seguram o gás formando como que minúsculos balões.
 

      3.2 - Diacetil
 

      O diacetil é responsável pelo aroma e paladar que lembra a manteiga. É produzido naturalmente pelo próprio metabolismo da levedura. Tendo em vista que este paladar não é considerado agradável, o que se objetiva é manter o teor de diacetil abaixo do seu limite de percepção sensorial que, para cerveja é de 0,10 ppm.
      Infelizmente, sem maiores cuidados, é muito fácil, na prática, ultrapassar este valor máximo. O controle do diacetil implica em cuidados de fabricação bastante rígidos.
 

      3.3 - Gushing
 

      É a termologia em inglês para o fenômeno que ocorre quando, ao se abrir uma garrafa, a cerveja transborda espontaneamente. Trata-se de um problema áclio, observado em cervejas produzidas com maltes provenientes de cevadas colhidas em condições climáticas muito úmidas. As substâncias responsáveis pelo gushing são produzidas por várias espécies de fungos que se reproduziram devido a umidade excessiva.
 

      3.4 - Amargor
 

      O amargor de uma cerveja, na realidade, se compõe de 3 fatores:
      a) Quantidade de amargor: pode ser medida analiticamente em laboratório e é de fácil correção;
      b) Qualidade do amargor: que por sua vez depende de como são feitas as adições de lúpulo durante a fervura do mosto, da natureza dos lúpulos utilizados e qualidade dos lúpulos utilizados;
      c) Natureza do amargor: por vezes uma cerveja apresenta amargor que não é proveniente dos lúpulos e que pode ter origem em diferentes fases do processo de fabricação.
 

      3.5 - Composição e Aspectos Nutricionais
 

      Centenas de constituintes químicos já foram identificados na cerveja e, por falta de métodos analíticos específicos, certamente ainda falta identificar outros. Os constituintes da cerveja são provenientes das: matérias-primas, malte, adjuntos amiláceos (arroz, gritz, etc), lúpulos (matérias amargas), água da fabricação do mosto, fermentação; maturação.
 

      3.5.1 - Elementos Minerais

      a) A cerveja contém de 1.200 mg/l de elementos minerais sendo os principais:
      b) Potássio (300 a 600mg/l) - cobre 45% das necessidades diárias;
      c) Magnésio (90 a 120mg/l) - cobre 20% das necessidades diárias;
      d) Fósforo (300 a 700mg/l) - cobre 40% das necessidades diárias;
      e) O teor de sódio (20 a 110mg/l) é baixo.
 

      3.5.2 - Vitaminas

O consumo de 1 litro de cerveja por dia pode cobrir uma boa parte das necessidades diárias em termos de vitaminas. São elas:
      a) Biotina (H) - cobre 5% das necessidades diárias;
      b) Thiamina (B1) - cobre 5% das necessidades diárias;
      c) Riboflavina(B2) - cobre 20% das necessidades diárias;
      d) Piridoxina (B6) - cobre 25% das necessidades diárias;
      e) Ácido Pantotênico - cobre 20% das necessidades diárias;
      f) Niacina - cobre 40-65% das necessidades diárias.
      A cerveja contém, ainda, outras vitaminas como, por exemplo, a vitamina B12, ácido fólico, inositol, colina, etc.
      A absorção do álcool para o sangue ocorre em 15 a 30 minutos se em estado de jejum e de 1 a 3 horas se o estômago estiver cheio. O álcool é metabolizado a uma velocidade de cerca de 100mg/h por kg de peso corporal, ou seja 7 g/h para um homem de 70 kg.
      Pode-se dizer que a cerveja é uma bebida que possui uma série de aspectos positivos, se não for objeto de abuso no consumo, pois, em resumo, deve-se notar que:
      a.1) A cerveja é livre de microorganismos patogênicos. Este fato é conhecido há séculos. Microorganismos patogênicos não sobrevivem na cerveja mesmo intencionalmente inoculados. Do ponto de vista higiênico a cerveja não apresenta falhas.
      b.1) A cerveja contém todos os seus componentes nutritivos na forma dissolvida. O fato de que os componentes já estejam dissolvidos e não na forma sólida, faz com que o organismo não necessite desdobrá-lo para poder absorvê-los.
      c.1) A cerveja contém um teor significativo de vitaminas do grupo B e de fosfatos. Este fato tem importância significativa na relação das necessidades diárias destes componentes.
      d.1) A cerveja não contém matérias graxas e é pobre em sal NaCl (cloreto de sódio, sal comum)
 

      3.5.3 - Compostos Protéicos
 

      A cerveja contém 3-5g/l de proteínas que provêm 85% das matérias-primas e 15% da levedura. Quanto ao perfil dos aminoácidos, praticamente todos os aminoácidos essenciais estão presentes.
 

      3.5.4 - Matérias Amargas
 

      A cerveja contém matérias amargas que podem ter várias ações fisiológicas como ação sedativa, bacteriostática, digestiva, estimuladora do apetite, etc.
 

      3.5.5 - Álcool e outros voláteis
 

      Uma cerveja do tipo Pilsen contém cerca de 35 a 45 g/l de etanol (álcool comum). Além do etanol encontram-se outros compostos voláteis onde se destacam os ésteres, aldeídos, álcoois superiores, etc.
 

      3.5.6 Carboidratos
 

      São provenientes das matérias-primas. Grande parte dos carboidratos existentes originalmente no mosto são fermentáveis e portanto são fermentados pela levedura. Na cerveja permanecem pequenas porções destes componentes segundo sua maior ou menor fermentabilidade. Destacam-se:
      a) Glucose - 150 mg/l;
      b) Fructose - 30 mg/l;
      c) Maltose - 1430 mg/l;
      d)Maltotetraose - 3360 mg/l.
      Igualmente, permanecem na cerveja, por não serem fermentáveis, outros carboidratos como:
      e) Pentoses - 60 mg/l;
      f) Dextrinas superiores - 5490 mg/l.
      Nota-se que as cifras citadas se referem a uma cerveja tipo Pielsen fabricada com 100% de malte.
 

      4 - Ingredientes da Cerveja
 

      As matérias-primas essenciais para a fabricação de cerveja são: água, malte, complementos de malte, levedura e lúpulo. Outros componentes podem ser utilizados, de acordo com o tipo, a tradição ou a preferência local.
 

      4.1 - Cevada/Malte
 

      A matéria-prima principal usada na fabricação da cerveja é a cevada. Os melhores grãos são grandes, têm mesmo tamanho e baixo conteúdo de proteína.
      Após sua colheita, a cevada vai para a Maltaria onde se transforma em malte de cevada, cereal de alto teor de amido e de enzimas que sofreu processo de malteação. É importado de países como França, Alemanha, Argentina, Bélgica, Finlândia, Canadá, Hungria, Espanha entre outros, ele chega ao Brasil de navio e daí, segue de caminhão até as Cervejarias.
      A malteação é o processo de germinação controlada da cevada, quando se formam as enzimas e se modificam as reservas alimentícias do grão, para que possam ser hidrolizadas adicionalmente durante a mosturação.
 

      4.1.1 - Malte
 

      A maltagem, que é o processo de fabricação do malte, envolve o controle do umedescimento com água e posterior germinação sob condições controladas, para obter mudanças físicas e químicas desejadas, com uma perda mínima de energia pelo processo de respiração.
      A princípio, qualquer cereal pode ser maltado. A escolha, entretanto, leva em consideração, entre outros fatores, o poder diastásico e o valor econômico de cada cereal. Entre os de maior poder diastásico encontram-se, pela ordem: cevada, centeio, trigo, aveia, milho e arroz. O valor econômico é definido pelo tipo de uso; há cereais utilizados em alimentação humana e animal.
      O cereal adequado para maltagem, do ponto de vista econômico, é aquele utilizado em alimentação animal; no Brasil, elege-se o milho e, na Europa a cevada. Nos Estados Unidos, ambos são utilizados.
      Uma vez feita a escolha do cereal, devem ser levadas em conta as seguintes características que constituem métodos de avaliação do potencial de maltagem:
      a) Poder germinativo: É calculado pelo número de sementes que germinam, num total de 100, em condições favoráveis, em período de tempo determinado, em geral de 5 a 10 dias. O poder germinativo não deve ser inferior a 95%, pois não só dá origem a malte de baixa atividade enzimática como os grãos não germinados podem abrigar focos de infecção.
      b) Potencial de germinação: Vem a ser a porcentagem de grãos que germinam em 72 horas. É diretamente proporcional à atividade enzimática do grão e deve ser da ordem de 65% a 85%.
      Na Maltaria, a cevada é transformada em malte de cevada. Este processo, chamado de Malteação, e consta de operações de limpeza dos grãos, maceração, germinação e secagem. O malte para cervejarias processam grãos de cevada, de preferência densos, com endosperma macio e friável, que são macerados em água até alcançar teores de umidade de 43 % a 46 %, colocados a germinar e então secos até 4 % de umidade, sob temperaturas finais que alcançam de 70?C a 100?C. Esta faixa de temperatura reduz a atividade enzimática do malte e torna-o escuro. A cerveja resultante é escura e possui sabor e aroma mais intensos.
      A maltagem pode ser tradicional em piso ou mecanizada. A maltagem tradicional em piso é o processo mais antigo. O cereal macerado é espalhado pelo piso, aspergido com água e revolvido para se obter melhor aeração, demorando neste processo cerca de 8 dias. A capacidade média do sistema é de 20 a 60 toneladas por partida. A cevada macerada é espalhada pelo piso em camadas que variam de 30 a 40 cm de altura e a cada revolvimento diminui-se a altura das camadas de modo a apresentarem-se no final com 8 a 10 cm. A maltagem mecanizada ou pneumática, que substitui o processo tradicional, foi introduzida para aumentar a produção, diminuir os custos, diminuir o espaço necessário, mas não acelera o processo bioquímico e fisiológico que transforma o cereal em malte. Também não há evidências de que possa causar efeitos deletérios aos grãos. A capacidade desses varia de 60 a 200 toneladas.
      Existem alguns complementos do malte que são carboidratos que proporcionam material fermentescível adicional ao mosto de cerveja, e usados para reduzir os custos, podendo diminuir o teor de nitrogênio no extrato. São adicionados na fase de fabricação do mosto e, quando contém amido, as enzimas contidas no malte hidrolizam-no a açúcares fermentescíveis.
      O malte ainda é o único agente sacarificante permitido na fabricação da cerveja, embora técnicas venham sendo propostas no sentido de sua substituição pelo uso de enzimas puras. Em seu preparo consegue-se manter ativo o sistema enzimático, composto principalmente de ? e ?-amilases e da maltase. A gomificação do amido facilita a atuação das enzimas já que expõe as cadeias do polissacarídeo, que em sua forma cristalina é mais resistente ao ataque enzimático. O modo e as condições ótimas de atuação das duas enzimas são bastante diferentes. A ?-amilase ataca as cadeias do amido pela extremidade não-redutora, dando origem a polímeros de cadeia mais curta denominados dextrinas, compostos de no mínimo cinco a seis glicoses. O ataque se faz apenas nas ligações ?-1,4. A ?-amilase prepara o material para um ataque mais efetivo pela ?-amilase. Esta também ataca as cadeias do amido pelas extremidades não-redutoras, atuando sobre as ligações ?-1,4, e deixando intactas as ?-1,6, com a diferença de produzir apenas maltose, açúcar composto de dímeros de glicose. As enzimas desdobram o amido do próprio malte e podem ainda hidrolisar o correspondente a 50 % do peso de malte, em forma de complemento acrescentado. Acima deste limite, torna-se necessária a adição de enzimas suplementares.
 

      4.1.1.1 - Limpeza do grão de cevada
 

      A limpeza constitui uma operação prévia da maltagem e geralmente é feita por peneiras, ventiladores, eletroímã, isoladamente ou em conjunto.
      As peneiras e os ventiladores retiram poeira, pedras, restos da planta, insetos, sementes estranhas e grãos quebrados ou estragados. Os resíduos metálicos são retirados por eletroímã.
      Além da limpeza, deve haver classificação das sementes quanto ao tamanho para que não haja germinação desuniforme.
 

      4.1.1.2 - Maceração
 

      A maceração tem por finalidade fornecer às sementes o grau de umidade necessário para a germinação, onde no início a cevada possui um teor de umidade entre 10 % a 14 %. A maceração, em alguns casos, pode levar à redução da porcentagem de germinação por induzir à dormência, conhecida como " sensibilidade à água ", quando o teor de umidade no grão atinge níveis superiores a certos limites. Este tipo de dormência é decorrente da falta de oxigênio disponível para sintetizar as enzimas necessárias ao processo da germinação. Existem barreiras naturais à penetração do oxigênio, mesmo que este esteja dissolvido na água, que em grãos recém-colhidos são camadas celulósicas protetoras ( palha e casca ) e a microflora que o acompanha e que pode competir pelo consumo de oxigênio. Neste caso, se não houver aeração forçada ou exposição ao ar, a germinação será falha.
      À medida que o grão "desperta " de sua dormência e se embebe de água, esta vai penetrando para seu interior e isso pode ser verificado pelo despreendimento de gás carbônico devido ao aumento da respiração.
      O embrião germina depois que as enzimas amilolíticas, secretadas pela camada de aleurona, originam as modificações do endosperma. O complexo enzimático sintetizado age em sequência para solubilizar e desagregar o tecido multicelular do endosperma, que, de consistência inicialmente rija, torna-se friável no grão maltado em decorrência da destruição da matriz proteica e dos grânulos de amido.
      Durante a maltagem, ocorre perda de 5 % a 10 % do peso total de amido originário dos grãos de menor tamanho que é utilizado nos processos metabólicos. Os grânulos maiores são pouco danificados. Quimicamente, há evidências de que a degradação é mais intensa nas cadeias externas de amilopectina com decorrente aumento percentual de amilose no amido residual do grão maltado.
      A aleurona aciona todo o sistema enzimático pela produção de giberilinas naturais cerca de 12 horas após o início da maceração. Neste período inicial, as reservas de nutrientes do endosperma, representadas principalmente pela sacarose, são utilizadas para manter o processo de germinação até que novo estoque de açúcares seja produzido por via enzimática.
      A hidratação do grão é fator importante, pois deve fornecer suprimento de água para a aleurona, de modo que esta possa sintetizar as enzimas necessárias e para que se dê a migração dessas enzimas através do complexo multicelular do endosperma. O teor de umidade do grão após 8 horas de maceração é de 31 % a 35 %. O tempo adicional de maceração proporciona a hidratação até o nível de 45 % a 46 %. Até o limite de 43 %, o endosperma e a casca possuem, em proporção, um teor mais baixo de umidade, em termos de peso seco, do que o pequeno embrião, que apresenta nesta fase cerca de 3 % do total da água absovida pelo grão macerado.
     A água empregada na maceração deve ter características definidas de pH e dureza, podendo ser adicionada cal (CaO), a fim de conseguir a alcalinidade necessária, e anti-sépticos, tais como, hipoclorito ou permanganato de potássio, para evitar o desenvolvimento de infecções.
 

      4.1.1.3 - Germinação
 

      Ao grão de cereal germinado sob condições de maltagem denomina-se malte " verde ". A duração do processo de germinação depende da velocidade com que as enzimas hidrolíticas alteram o endosperma. A faixa de temperatura empregada na germinação varia de 5?C a 25?, com ótimo em torno de 15?C. O processo de germinação é exotérmico, consumindo energia a qual é obtida do amido do grão como parte do processo respiratório; 100 Kg de cevada consomem, em média, 6 Kg de amido e desprendem 28.540 cal. Devido ao calor desprendido, na maltagem mecanizada ocorrem perdas de 2 % a 5 % de umidade, as quais são compensadas pela aspersão de água.
      Os dois primeiros dias de germinação coincidem com o maior transporte de giberelina da aleurona para o embrião. A germinação é paralisada quando o grão alcança a fase máxima de produção de enzimas, que se reconhece na prática pelo tamanho da radículas, que é a formação de pequenas raízes e que alcança de dois terços a três quartos do comprimento total do grão
 

      4.1.1.4 - Secagem
 

      A secagem do malte é realizada com dois propósitos. A atividade biológica da germinação deve ser paralisada quando a produção de enzimas assim como as modificações do endosperma atingem o nível ótimo e o teor de umidade é reduzido a um nível ideal, no produto acabado, para garantir o armazenamento.
      O malte " verde " possui cerca de 45 % de umidade e deve ser secado de modo a preservar seu sistema enzimático. A secagem se faz a temperaturas que variam de 20?C a 100?C, conforme o malte deva ser claro ou escuro.
      A secagem ao forno normalmente ocorre em duas fases. A primeira é chamada de pré-secagem, na qual o malte atinge de 8 % a 12 % de umidade. O período de tempo necessário, em geral, é de 20 minutos, com forno de 20?C a 70?C, sendo que o início da elevação da temperatura ocorre cerca de 10 minutos após a introdução do malte. Na fase final, também chamada de cura, a umidade se reduz para 4 % a 5 %, com o forno a 70?C a 95?C. A duração de cura varia de 2 a 3 minutos para o malte claro e de mais de 5 minutos para o malte escuro. A diferença entre as características da ceveda e do malte estão na Tabela (1)
 

Tabela 1 - Composição Média do Grão de Cevada e da Cevada Maltada:
 
CARACTERÍSTICAS  CEVADA MALTE 
Massa do grão ( mg ) 32 a 36 29 a 33 
Umidade ( % ) 10 a 14 4 a 6 
Amido ( % )  55 a 60  50 a 55 
Açúcares ( % )  0,5 a 1,0 8 a 10 
Nitrogênio total ( % ) 1,8 a 2,3 1,8 a 2,3
Nitrogênio solúvel ( % de N total )  10 a 12  35 a 50 
Poder diastásico (? % Lintner ) 50 a 60  100 a 250 
alfa-amilase (20? unidades de dextrinas produzidas)  Traços 30 a 60 
Atividade proteolítica Traços 15 a 30
 
       O processo para malte Pilsen dura entre 5 e 7 dias.
 

      4.1.2 - Cevada
 

      É uma gramínea e pertence ao gênero Hordeum, cujos grãos, na espiga, odem ser alinhados em duas ou seis fileiras. Existem preferências por um ou por outro tipo de cevada nos principais centros cervejeiros do mundo. Na Europa, normalmente, utiliza-se a de duas fileiras e, nos Estados Unidos, a de seis. Existem diversas espécies de cevada, para cultivo de acordo com a finalidade. As espécies cervejeiras reúnem uma série de características que as tornam adequadas.
      Embora existam variedades "nuas", provenientes da Ásia, a grande maioria das variedades utilizadas em maltagem possui uma "casca" cimentada ao grão, que a protege de danos mecânicos durante o processo de maltagem e transporte. As cascas são também importantes como agentes filtrantes, além de incorporar cor, aroma e sabor ao mosto, constituindo uma vantagem na fabricação da cerveja.
      O grão de cevada é um fruto do tipo cariopse, envolto por diversas camadas celulósicas denominadas em conjunto glumas. A primeira capa celulósica envolve externamente, é eliminada no beneficiamento e é denominada popularmente palha. A segunda e terceira camadas, constituídas da pálea e da lema, são aderentes ao grão, não eliminadas no beneficiamento e desempenham papel importante na ténica da cervejaria. O conjunto das duas é denominado casca.
      A composição média do grão de cevada é de: 15 % de umidade; 10 % de proteína; 1,5 % de matéria graxa; 66,4 % de carboidratos; 4,5 % de fibras e 2,6 % de fibras.
      O endosperma, é constituído pelo amido de reserva além de outros carboidratos, entre os quais predomina a sacarose. Os grânulos de amido variam de tamanho. Predominam os pequenos (90 % do total), que representam, entretanto, apenas 10 % do peso total de amido. No grão de cevada, a fração amido é constituída, em média, de 24 % de amilose e 76 % de amilopectina, embora seja possível a obtenção de variedades com cerca de 47 % de amilose, po melhoramento genético. Os teores na matéria seca do grão da cevada por componentes é dada na Tabela (2)
 

Tabela 2 - Composição Média do Endosperma do Grão de Cevada (g / 100 g):
 
COMPONENTES TEORES NA MATÉRIA SECA 
Amido  63 a 65 
Sacarose  1 a 2 
Outros açúcares
Hemicelulose  8 a 10 
Lipídeos 2 a 3 
Proteínas  8 a 13 
Cinzas 2 a 2,5
Outros 5 a 6 
 

      Não há dúvidas de que existe uma relação entre teor proteico e quantidade de enzimas, embora se reconheçam os prejuízos que a proteína solúvel possa vir trazer para a cerveja. Assim, cevadas com alto teor de proteínas contam com estoque mais elevado de enzimas, pressupondo maior eficiência na hidrólise de amido e de própria proteína, levando a maiores índices de rendimento alcoólico.
 

      4.2 - Água Cervejeira
 

     É um fator importante a ser considerado, e praticamente define o local de instalação da cervejaria. Por muito tempo sua composição foi muito valorizada. Atualmente se for imprópria, é possível lançar mão de correções por meio de produto químicos, sendo uma condição imprescindível a de que seja potável. Por esta razão, o mais importante é, sem dúvida, a quantidade, pois a indústria cervejeira consome grandes volumes de água. Em geral, para cada 100 litros de cerveja há um consumo de 1000 litros de água (incluindo água de fabricação industrial).
      Cada tipo de cerveja apresenta uma composição diferente de minerais na água; por exemplo: a cerveja tipo "pilsen" é produzida com água mole, isto é, uma água que contém poucos sais minerais. A cerveja tipo "ALE", inglesa, é produzida com água dura que tem maior quantidade de sais minerais.
      Outro quesito a ser considerado é o pH. Se for alcalina, poderá dissolver grandes quantidades de matérias indesejáveis das cascas e do malte. A reação ácida é necessária para obter a máxima atividade de enzimas amilolíticas e proteolíticas. O carbonato de cálcio, na presença de fosfato diácido de potássio, reduz a acidez da água formando fosfatos monoácidos de cálcio e potássio, e gás carbônico. O pH se eleva, diminui a atividade enzimática, as amilases atuam menos e sobram mais dextrinas. H;a menos proteólise e maior extração de cor e substâncias amargas.
      A dureza temporária da água é dada por bicarbonatos e a fervura provoca a precipitação dos mesmos. A dureza permanente é dada por sulfatos ou cloretos de cálcio e magnésio.
      De maneira geral, pode-se caracterizar a água ideal para fabricação de cerveja por: pH entre6,5 e 7,0; menos de 100 mg/litro de carbonato de cálcio ou magnésio; traços de magnésio, de preferência na forma de sulfatos; de 250 a 500 mg/litro de sulfato de cálcio; de 200 a 300 mg/litro de cloreto de sódio; e menos de 1 mg/litro de ferro.
 

      4.3 - Cereais não maltados
 

      Pode estar na forma líquida ou sólida. A utilização dos adjuntos resulta em cervejas mais leves e de coloração mais suave, adequadas para o consumo em locais de clima quente
      Os cereais não maltados não são essenciais para a fabricação da cerveja em geral, mas fornecem açúcares fermentáveis ao mosto cervejeiro complementando o extrato, elemento mais importante na sua fabricação. O gritz de milho e de arroz são exemplos de cereais não maltados.
 

      4.4 - Levedura
 

      A levedura é um microorganismo unicelular que além de ter a capacidade de transformar açúcar em álcool e CO2, ainda produz os componentes aromáticos característicos de cada cerveja.
      Existem dois tipos diferentes de levedura de cerveja: as de alta fermentação e as de baixa fermentação .
      As leveduras de alta fermentação desdobram o mosto cervejeiro muito rapidamente em temperaturas elevadas (Entre 10 e 25 Graus Celsius). Ao fim da fermentação ela se localiza na parte superior do líquido. São utilizadas para certos tipos de cervejas, como a cerveja de trigo (Weissbier).
      As leveduras de baixa fermentação são mais lentas em seu trabalho e atuam na faixa de temperatura entre 6 a 10 Graus Celsius. É o tipo mais usado atualmente no mundo.
 

      4.5 - Lúpulo
 

      A planta do lúpulo, Humulus lupulus, é dióica. É uma planta trepadeira e perene, pertencente à família das moráceas. É originário das zonas temperadas do norte da Europa, Ásia e América. Em estado selvagem, o lúpulo tem indivíduos masculinos e femininos que crescem juntos e se reproduzem através da polinização.
      Somente as flores femininas não polinizadas (virgens) do lúpulo podem ser utilizadas na fabricação da cerveja.
      Isso porque as resinas de lúpulo (lupulinas), que dão sabor amargo e durabilidade à cerveja, só estão presentes nestas flores.
      O lúpulo, além de sua forma natural, em flores secas, em pó, pode ser encontrado em forma de extrato (resina de lúpulo concentrada responsável principalmente pelo sabor amargo) e, em "pellets" (flor do lúpulo prensada que fornece o aroma à cerveja). As duas últimas são mais adequadas por proporcionar maior densidade e, portanto, menor volume a ser transportado. Os lúpulos são importados principalmente da Alemanha e da costa oeste dos Estados Unidos. A diferença entre os componentes do lúpulo em pó e extrato são dados na Tabela (3).
 

Tabela 3 - A composição média do lúpulo em pó e na forma de extrato:
 
COMPONENTES  EXTRATO 
Teor de umidade ( % )  0 12,6 
Total de resinas ( % )  0  34,6
Resinas moles ( % ) 0  29,5 
alfa-ácidos ( % ) 4,9  12,3 
Antocianinas ( mg/g ) 23  13,5 
Tanino (mg/g ) 54  61,7 
 
       5 - Processamento Clássico de Fabricação
 

      O processo de fabricação começa no Moinho. Lá, os grãos do malte de cevada são moídos e as cascas serão depois utilizadas para auxiliar a filtração do mosto nas tinas de filtração.
 

      5.1 - Moagem do Malte
 

      O malte moído é então levado para a Caldeira de Malte onde será misturado com água cervejeira para ser cozido. Enquanto isso na Caldeira de Gritz, o milho triturado também será cozido com água para se transformar no produto conhecido como Calda. A moagem se processa em moinhos apropriados de cilindros múltiplos, capazes de triturar o malte sem moê-lo completamente. Ela favorece o contato do malte com a água e faz com que as enzimas ativadas na malteação entrem em ação, dissolvendo os elementos solúveis que o compõem.
 

      5.2 - Mosturação
 

      A próxima etapa, mistura e fervura da Calda com o malte cozido, é chamada de Mosturação. As misturas podem ser feitas através de vários processos com temperaturas e tempos de repouso diferentes. É o processo de preparação do mosto, obtido pela mistura de malte moído e água, sob condições controladas de tempo, temperatura, concentração e agitação. Na Tabela (4) são dados os sólidos contidos no mosto.
 

Tabela 4 - Composição Média dos Principais Sólidos do Mosto:
 
SÓLIDOS  %
Carboidratos 90,8 a 92 
Compostos nitrogenados ( N*6,5 ) 3,8 a 6 
Sais minerais  1,5 a 2
Ácidos livres ( expressos em ácido láctico ) 0,5 a 1 
Substâncias fenólicas 0,1 a 0,2 
Extratos e óleos do lúpulo 0,05 a 0,1 
Lipídios 0,03 a 0,06 
 
       Conhecendo estes processos, o mestre cervejeiro pode criar várias receitas e fabricar diferentes tipos de cerveja.
 

      5.3 - Clarificação do Mosto
 

      É a separação do extrato líquido (mosto) da parte sólida (bagaço). O bagaço - constituído pela casca - atua como meio filtrante. Terminado o processo de filtração do mosto (mosto primário), lava-se o bagaço com água quente para retirar o máximo de extrato possível. O Mosto vai direto para a Caldeira de Fervura onde será esterilizado e receberá o Lúpulo, reponsável pelo amargor e aroma característicos da cerveja.
 

      5.4 - Fervura e Lupulagem
 

      Essa fase do processo tem como finalidade tornar as enzimas inativas, esterilizar o mosto, concentrar o mosto no grau desejado, extrair as substâncias essenciais do lúpulo, precipitar as proteínas indesejáveis e, finalmente, transformar o aspecto e paladar do mosto. É a lupulagem que proporciona o amargor e aroma da cerveja, além de ajudar na formação da sua espuma.
      O tempo de fervura depende do tipo de cerveja a ser fabricada. A média é entre uma hora e meia a duas horas.
 

      5.5 - Sedimentação do Mosto Lupulado
 

      Depois da caldeira, o mosto é transferido para o "Whirlpool" ou, Decantador que separa a parte sólida em suspensão através de centrifugação.
      Essa operação permite a decantação e eliminação do "trub" ou coágulo, para não prejudicar a qualidade da cerveja e não alterar as características básicas do fermento.
      Agora ele já está pronto para ir ao resfriador. Sua temperatura cai de 100 graus C para 8 graus C.
 

      5.6 - Refrigeração do Mosto Lupulado
 

      O mosto decantado deve ser logo refrigerado para temperatura inicial de fermentação (8 graus C). Esse processo acontece nos trocadores de calor, dotados de refrigeração artificial, em contrafluxo. Durante o resfriamento, o mosto é intensamente aerado com ar estéril e inicia-se a injeção do fermento.
      Com o mosto tratado, resfriado e adicionado da quantidade de levedura necessária, inicia-se a fermentação.
 

      5.7 - Fermentação
 

      As leveduras mias usadas para a fermentação em cervejarias são duas espécies do gênero Saccharomyces, S. cerevisiae e S. uvarum ( S. carlsbergensis ). A cerveja americana e a alemã Pilsener do tipo Lager são produzidas pela fermentação profunda ( baixa ), por cepas de S. uvarum. São consideradas como de alta atividade fermentativa e de menor capacidade respiratória  a S. cerevisiae. A s cervejas inglesas Porter ou Stout do tipo Ale são em geral produzidas por fermentação superficial ( alta ), realizadas por cepas de S. cerevisiae. Outras leveduras, como as dos gêneros Schizosaccacharomyces, Hansenula, Pichia, Torulopsis, Candida, Brettanomyces, assim como algumas outras espécies de Saccharomyces estão relacionadas com deterioração da cerveja e são normalmente denominadas leveduras " selvagens ", no sentido de ser diferentes das cultivadas. Elas proporcionam sabor e aroma anormais, razão por que são consideradas como infecções perigosas e representam sério risco à qualidade da cerveja. Exames microbianos de rotina devem ser feitos para esses contaminantes, assim como para bactérias, a fim de que seja mantida a qualidade da cultura do fermento utilizado.
      A descrição tradicional do processo de fermentação em cervejarias é a conversão processada pela levedura (fermento) de glucose, em etanol e gás carbônico, sob condições anaeróbicas. Esta conversão se dá com liberação de calor.
 

      C6H12O6  --  2C2H5OH + 2CO2 + calor
Glucose  --  Álcool Etílico (Etanol) + Gás Carbônico + calor
 

      No decorrer do tempo descobriu-se que o processo ocorre pela influencia de numerosas enzimas e co-enzimas, as quais são responsáveis pelas reações, muito mais complexas, que constituem este processo de conversão.
      Na prática de uma fermentação cervejeira, participam do processo não apenas a glucose, mas todos os carboidratos fermentescíveis presentes no mosto.
      Inúmeros subprodutos se desenvolvem durante a fermentação, vários produtos intermediários permanecem no líquido e muitos componentes do mosto são assimilados pela levedura.
      Todos estes complexos de assimilação, formação de produtos e subprodutos, oriundos destas reações químicas e bioquímicas, influenciam o aroma, o paladar e as características finais da cerveja pronta.
      O processo de fermentação que ocorre nas cervejarias dependem, na prática, dos seguintes fatores:
      a) Quanto ao mosto a ser fermentado:

      a.1) Concentração;
      a.2) Composição;
      a.3) Teor de oxigênio dissolvido;
      a.4) Temperatura inicial.

      b) Quanto à levedura a ser inoculada no mosto:

      b.1) Tipo de levedura;
      b.2) Estado fisiológico no momento da inoculação;
      b.3) Quantidade inoculada;
      b.4) Tecnologia usada para a inoculação; (apenas no "primeiro mosto", aeração prévia, etc.).

      c) Quanto às condições de processamento:

      c.1) Duração do processo (remoção controlada do calor gerado pela própria fermentação);
      c.2) Temperaturas máximas especificadas;
      c.3) Tamanho e forma dos tanques;
      c.4) Volume e pressão hidrostática;
      c.5) Agitação da cerveja sendo fermentada.

      Desta forma, o mosto é bombeado para a adega, onde ficam os tanques verticais. É nestes tanques que a levedura transforma os açúcares fermentáveis em álcool e CO2, ingredientes que dão refinamento ao sabor e aroma da cerveja.
      A levedura de cervejaria de boa qualidade deve permanecer em suspensão durante a fase ativa da fermentação e então flocular e sedimentar, permitindo sem dificuldade a separação rápida da cerveja clarificada do sedimento. A velocidade de sedimentação é característica muito importante. Essa habilidade de flocular, precoce ou tardiamente, é uma propriedade genética de certos grupos de leveduras, a qual pode ser afetada mas não controlada por influências externas entre as quais a composição do mosto. No caso de a levedura flocular, formará agrupamentos que irão ao fundo da dorna dando origem a fermentações baixas. Se não flocular, poderá subir à superfície dando origem a fermentações altas. Quando o fermento flocula, há uma diminuição da superfície ativa das células e as fermentações serão mais lentas.
 

      5.7.1 - Dosagem do fermento:
 

      O fermento é dosado por aparelhos especiais, que controlam o exato número de células por mililitros no mosto aerado.
 

      5.7.1.1 - Fermentação principal ou primária:
 

      A fermentação principal é realizada em tanques fechados providos de camisas de refrigeração utilizadas no controle da temperatura durante todo o processo. Essa fase pode durar de 7 a 10 dias com temperaturas oscilando entre 8 e 12 graus C. O processo de fermentação compreende a fase aeróbica e a fase anaeróbica.
 

      5.7.1.2 - Propagação de fermento puro:
 

      O fermento não pode ser infinitamente utilizado. Suas características se modificam por degeneração, e isso faz com que ele tenha que ser constantemente renovado. Em cervejarias, geralmente, inicia-se a fermentação com culturas puras de leveduras que são renovadas após um certo número de fermentações (de quatro a seis), entre as quais são lavadas com água acidulada ao redor de pH 2,5, com ácido fosfórico, tartárico ou persulfato de amônia, para eliminar os contaminantes. Desde que suficientemente protegidas de contaminações, as leveduras mantém-se marcadamente constantes, sem sofrer mutações, através de muitas fermentações. Quando o fermento começa a apresentar sinais de declínio, perdendo o vigor das células, é descartado e prepara-se o novo inóculo.
      Em resumo, o objetivo do processo de fermentação é, aplicando-se a técnica e a experiência cervejeira, conduzir as interações de todos estes parâmetros para obter o produto final - cerveja - com as características organolépticas, químicas e físico-químicas previamente determinadas para o tipo de cerveja a produzir.
 

      5.8 - Maturação
 

      Esta cerveja, chamada de cerveja jovem, não pode ser consumida porque ainda não tem um sabor equilibrado e suficiente de CO2. Para isso é necessário que ela passe pelo processo de maturação, que também acontece em tanques verticais
      No final da fermentação principal resta apenas uma pequena fração de extrato fermentável. A cerveja é então resfriada a temperaturas em torno de 3,5 graus C e transferida para os tanques de maturação, onde a temperatura é mantida entre - 0,5 e 0,0 graus C. Pode durar até 30 dias, clarifica parcialmente e refina o paladar e o aroma da cerveja.
      Logo após, a cerveja com seu teor de álcool previsto, realiza-se a correção da concentração de CO2.
      A utilização de novas tecnologias com utilização de tanques OD, etc, não alteram os objetivos desta fase da fabricação de cervejas que podem ser resumidos em:
      a) Clarificação das características de aroma e paladar;
      b) Clarificação da cerveja pela decantação de substâncias em suspensão, leveduras e partículas amorfas diversas;
      c) Estabilização coloidal pela formação e precipitação de complexos protéicos insolúveis a frio;
      d) Saturação da cerveja com gás carbônico proveniente de uma fermentação secundária.
      O objetivo mais importante é a maturação propriamente dita, ou seja, o aprimoramento do aroma e paladar da cerveja.
      Este processo de aprimoramento se dá através de reações químicas e bioquímicas envolvendo as centenas de constituintes químicos já identificados em cervejas.
      Alguns destes componentes aumentam sua concentração, outros diminuem, e outros mais, permanecem inalterados durante este processo de maturação. Este complexo de modificações é em função do tempo, isto é, da duração do processo de maturação e da temperatura na qual o processo se realiza.
      A modificação do teor de alguns componentes, de particular importância no processo, pode ser acompanhada analiticamente em laboratório.
      No entanto, o processo de maturação no seu todo, em razão de sua complexidade, não tem como ser acompanhado analiticamente, o que torna inevitável e imprescindível que o desenvolvimento do processo seja acompanhado através de degustação.
      Neste aspecto, as determinações analíticas apenas complementam, em determinadas pontos específicos, as conclusões tiradas na prática, através das degustações realizadas por provadores profissionalmente treinados e habilitados nesta função.
      Todo o proceso de fabricação, fermentação e maturação pode levar de 15 dias até 2 meses. Depende da receita da cerveja.
 

      5.9 - Filtração
 

      A cerveja resfriada e maturada, será também filtrada para ficar clara e livre de partículas. Depois da maturação a cerveja se apresenta levemente opalescente. Têm início, então, dois estágios consecutivos da filtração. A cerveja passa por filtros especiais que retêm as leveduras em suspensão, as resinas do lúpulo e colóides, que constituem a maior parte das substâncias em suspensão. Em seguida, filtros equipados com placas de celulose retêm as partículas mais finas, assegurando o brilho e a perfeita transparência da cerveja.
      O produto é recolhido em tanques providos de camisas de refrigeração com contrapressão de gás carbônico, para que mantenha as condições ideais de conservação.
      Antigamente a cerveja não era fitrada, mas quando os consumidores trocaram as canecas de cerâmica por copos de vidro, isso mudou.
      Fazer uma cerveja clara sem turvação de levedura é difícil e caro, mas também é um dever de todo bom mestre cervejeiro.
      Depois de filtrada a cerveja fica nos tanques de pressão onde seu sabor e aroma são controlados.
 

      5.10 - Engarrafamento
 

      O produto engarrafado representa a maior porcentagem da cerveja produzida no Brasil. Em conjunto com as latas, chega a atingir até 95% das vendas totais. O embarrilamento é o conjunto de equipamentos que fazem a limpeza, sanitização e enchimento dos barris. A partir daí, os barris estão prontos para serem transportados para os bares e restaurantes.
      O engarrafamento começa na despaletizadora. Esta máquina retira as caixas de garrafas vazias das pilhas sobre o pallet de madeira e as colocam na linha de engarrafamento.
 

      5.11 - Lavadoras de Garrafas
 

      As caixas entram na desencaixotadora que retira as garrafas vazias e as coloca em esteiras. Estas esteiras levam as garrafas até a lavadora para serem limpas e sanitizadas.
      Lavam por processo de mergulho e esguichamento. As garrafas são transportadas por esteira e passam por diferentes tanques que contêm soluções alcalinas com temperaturas que variam entre 40 e 70 graus C. No final são submetidas a um enxagüamento interno e externo com água pura na temperatura ambiente.
      Após serem lavadas elas são inspecionadas eletronicamente onde todas as garrafas que apresentarem defeitos serão eliminadas. Após a inspeção, as garrafas vão para a enchedora.
 

      5.12 - Enchedora de Garrafas
 

      As máquinas enchedoras do tipo carrossel têm uma capacidade de 25.000 a 70.000 garrafas ou mais por hora.
      Primeiramente, a enchedora elimina o oxigênio, que não é bom para a cerveja da garrafa. Logo após ela pressuriza CO2 na garrafa e a enche de cerveja sob contra-pressão do CO2 para evitar formação de espuma.
      As enchedoras operam sob condições isobarométricas.
      Uma vez que a cerveja contém de 0,50 a 0,60% de gás carbônico dissolvido, existe uma forte tendência para que o líquido espume na garrafa. A tecnologia sofisticada das fábricas atuais permite submeter o interior das garrafas à mesma contrapressão exercida na cerveja do tanque. Só então o líquido é escoado, enchendo rapidamente a garrafa, com mínima produção de espuma.
 

    5.13 - Capsuladora de Garrafas
 

     Depois de cheias, as garrafas seguem para a capsuladora, onde as cápsulas metálicas ou tampas com vedante interno são aplicadas. A operação das máquinas fecha hermeticamente a garrafa e elimina a perda de líquido. Por isso, todas elas apresentam o mesmo nível e uma mínima incorporação de ar.
 

      5.14 - Pasteurizador
 

      É um equipamento que inativa as enzimas existentes na cerveja, proporcionando sua necessária estabilidade biológica. O pasteurizador submete as garrafas já cheias e capsuladas a um aquecimento por chuveiros de água, a temperaturas progressivamente elevadas até 60 graus C, onde permanecem por alguns minutos. Para evitar choque térmico e conseqüente quebra das garrafas, o resfriamento também é progressivo.
      Existem reações químicas que ocorrem neste período de aquecimento e que afetam negativamente o paladar. Portanto, o objetivo deve ser o de alcançar a estabilização, utilizando o mínimo possível do efeito pasteurizador.
      A superpasteurização não deve ser considerada como um recurso corretivo para problemas microbiológicos devidos a sanitizações insuficientes nas adegas, filtrações, tubulações, etc.
      Mediante a aplicação de procedimentos apropriados de limpeza e esterilização, de todos os equipamentos, os cervejeiros podem reduzir as necessidades de pasteurização a níveis compatíveis com a qualidade do produto.
      Quando estes cuidados se somam a cuidados com o conteúdo de ar, dentro do envase, o efeito da pasteurização sobre a qualidade da cerveja é mínimo.
      Na prática, a pasteurização é controlada pelas chamadas "Unidades de Pasteurização" (UP). Uma UP corresponde á exposição do produto durante 1(um) minuto à temperatura de 60 graus C. É, na realidade, uma medida do efeito letal do tratamento térmico produzido por este processo.
      Segue-se uma nova etapa de inspeção, feita visual ou eletronicamente.
      A cerveja pasteurizada, e bem estocada, tem uma durabilidade de vários meses.
 

      5.15 - Rotuladora
 

      Saindo do pasteurizador, as garrafas são rotuladas e eletronicamente inspecionadas. Coloca nas garrafas já pasteurizadas os rótulos para identificação do produto. São máquinas complexas que trabalham em velocidades elevadas, proporcionando rotulagem perfeita e posicionamento uniforme. O rótulo precisa ter um desenho harmonioso e agradável, além de cores bonitas, que proporcionem impacto visual e fácil reconhecimento pelo consumidor.
      Se tudo estiver dentro dos padrões, elas são embaladas, empilhadas e estão prontas para o transporte.
 

      5.16 - Encaixotadora

      As garrafas são depositadas automática e suavemente nos alvéolos das caixas de cerveja a fim de não prejudicar a integridade e o aspecto dos rótulos.
 

      5.17 - Paletizadora
 

      São máquinas que recolocam as caixas de garrafas cheias em plataformas padronizadas ou pallets. Assim, facilitam a movimentação dos conjunto feita por carrinhos empilhadores e o transporte até os estoques ou os caminhões de entrega.
      As latas e as garrafas descartáveis não passam pelo processo desencaixotadora-lavadora-encaixotadora.
 

      5.18 - Enlatamento
 

      Os métodos empregados são semelhantes aos do engarrafamento. As operações se iniciam com a recepção do corpo das latas em pallets e das tampas, separadas do corpo.
      Depois de retirados automaticamente e levados por transportadores até as rinsers, os corpos já impressos e tampas são lavados com jatos de água quente.
      Daí seguem para uma enchedora semelhante às enchedoras de garrafas.
      Uma vez cheios, os corpos das latas vão para a recravadora, que é abastecida com tampas. É feito o fechamento, uma operação delicada que requer controle freqüente.
      Segue-se a pasteurização, muito semelhante àquelas das garrafas, e o controle automático de nível.
      Finalmente, as latas dão entrada na embaladora. São formadas caixas de cartão corrugado que seguem direto para a expedição.
 

      5.19 - Embarrilamento
 

      Os novos barris de aço inoxidável com tubo de sifão incorporado facilitam a lavagem e esterilização, minimizam vazamentos e só permitem a extração do chopp com equipamentos específicos.
      Desde que os barris vazios retornam à cervejaria até serem novamente remetidos ao cliente, todas as operações de lavagem, esterilização, embarrilamento e controle são feitas de forma totalmente automática e com a máxima precisão.
      Equipamentos e sistemas de extração aperfeiçoados possibilitam a extração de chopp sem alterações de teor de gás carbônico e da limpidez.  Fazem também com que o chopp chegue sempre na temperatura ideal ao copo.
 

      6 - Processo Contínuo de Fabricação
 

      Processos unitários contínuos de fabricação da cerveja tem sido proposto em substituição aos intermitentes tradicionais, porém, poucos tem sido empregados em escala industrial.
      A fermentação contínua de cerveja teve início no começo do século e baseia-se, por gravidade, por uma série de cubas. As dificuldades práticas para manter a esterilidade e controlar o sabor (devido à precipitação de substâncias proteicas), impediram até bem pouco tempo sua utilização mais generalizada.
      A fermentação da cerveja pode ser dividida em duas etapas: uma fase aeróbia, em que ocorre a multiplicação das células da levedura, e uma fase anaeróbia, em que ocorre a fermentação alcoólica do mosto. Pode-se recuperar parte da levedura na fase anaeróbia e fazer sua reciclagem para o mosto a ser fermentado em métodos contínuos de fabricação empregados no Canadá, Nova Zelândia e Alemanha. Posteriormente, demonstrou-se que é possível fermentar o mosto por processo contínuo em que se emprega uma só dorna utilizando-se oxigênio como substrato limitante para o crescimento celular. A fermentação se mantém em um estado de regime que proporciona alta concentração de leveduras de modo que a velocidade da fermentação é de três a quatro vezes maior que no processo intermitente. A fermentação pode ser ainda maior quando se utiliza temperatura acima de 20?C. A fermentação intermitente, quando à temperatura elevada, pode dar origem a sabores adstringentes na cerveja, porém, se a fermentação transcorrer em velocidade muito superior à do processo tradicional (até vinte vezes maior), esses riscos diminuirão por haver menor tempo de contato entre os componentes do mosto responsáveis pelo sabor originário principalmente do lúpulo.
 

      7 - Defeitos e Infecções da Cerveja

      A cerveja é um produto perecível já que ocorrem alterações, com o pasar do tempo, afetando sabor, aroma e aparência. Entre as diversas alterações que constituem defeitos na cerveja, a mais comum é a turbidez, que pode ter várias origens: proteína instável, complexos proteicos, tanino, amido, resina e microorganismos.
      A turbidez causada por material proteico normalmente ocorre a baixas temperaturas. Esse tipo de turbidez, que em geral desaparece com o aquecimento da cerveja, surge quando o malte é seco de maneira inadequada no forno ou quando a cevada utilizada tem alto teor proteico. Já a turbidez oxidativa é devida, em parte, ao complexo proteína-tanino. A presença de oxigênio, a agitação durante o transporte, a colisão de garrafas ou recipientes, com geração de ultra-som, ruídos de vibração e o efeito da luz solar predispõem à turbidez oxidativa enquanto que se pode dificultar seu aparecimento pela saturação da cerveja com CO2.
      A turbidez pode ainda ser causada por hidrólise incompleta do amido durante a mosturação. Às vezes, deve-se ao fato de o malte não ter atividade diastásica suficiente, ocasionada por secagem mal conduzida. Neste caso a adição de amilases diretamente às cubas de armazenamento remove esse tipo de turbidez.
      A turbidez causada por leveduras pode ser devida à perda de sua capacidade de flocular, por ocasião da fermentação secundária, a qual por sua vez pode ser mosto de má qualidade. Geralmente, a adição de cerveja em fase ativa de fermentação costuma ser efetiva na correção desse defeito. As leveduras selvagens, principalmente S. pastorianus, frequentemente produzem turbidez. Excluindo o ar e mantendo baixo o teor de açúcares fermentescíveis na cerveja "verde", o crescimento é inibido, mas o uso de culturas puras previne este problema.
     Outro tipo de turbidez, e talvez o mais sério de todos, embora não tão frequente, é o causado pelo desenvolvimento de bactérias que podem deteriorar a cerveja, tornando-a turva e produzindo sabores estranhos.
      Cervejas " defeituosas "podem ser resultantes de matéria-prima imprópria, uso de lúpulo de má qualidade ou em excesso ou ainda fervura muito prolongada (alta extração). Contato da cerveja com ferro causa sabor de " tinta " e sabores estranhos são também causados por contato com água de fabricação inadequada, cerveja " nova " ou " verde " e gás carbônico em teores menores que o recomendado.
      Já a infecção da cerveja nem sempre pode ser evidenciada pela turbidez visível. A ação dos microorganismos infectantes pode às vezes ser percebida apenas na cerveja acabada pelas alterações ao paladar.
      Sào permitidos po lei aditivos na fabricação da cerveja como antioxidante (ácido ascórbico e ácido isoascórbico), acidulante (ácido láctico), estabilizante (alginato de propilenoglicol) e conservador (dióxido de carbono e propionato de cálcio ou de sódio). São permitidos também, por lei, coadjuvantes como: clarificante (albumina, bentonita, ictiocola, PVP solúvel, sílica, tanino), filtrante (asbestos, celulose, perlita, terra diatomácea), nutriente (carbonato de amônio), descolorante ou desodorizante (carvão ativado), bicatalisadores (enzimas amilolíticas) e protetor (nitrogênio).
 

      8 - Tipos de Cerveja
 

      A Bélgica é um dos países com maior tradição cervejeira do mundo. Para se ter uma idéia, lá são produzidos mais de cem tipos de cerveja diferentes.
      A Alemanha, a Irlanda, a República Tcheca e a Holanda também têm uma grande e importante cultura cervejeira. Nestes países nasceram e são fabricados alguns dos tipos de cerveja mais famosos que existem.
      Impressionante que as combinações dos quatro ingredientes básicos da cerveja juntamente com alguns "agregados" e variações no processo de fabricação, como diferentes tempos e temperaturas de cozimento, fermentação e maturação, tipos de levedura utilizada, a forma ou o momento em que os ingredientes são adicionados, da filtragem, pasteurização ou não, até o local e época do ano em que foram cultivados os ingredientes, possam gerar uma enorme variedade de cervejas. Estimam-se que existam cerca de 20.000 diferentes tipos de cerveja no mundo. Vejamos alguns:
 

      8.1 - Pilsen
 

      A Pilsen, tipo de cerveja mais popular do mundo, surgiu na República Tcheca, na cidade do mesmo nome.
      Em cada país ela apresenta características diferentes. As marcas mais conhecidas da Alemanha (Becks, Köning, Dab e Löwenbrau) e da República Tcheca (Pilsener Urquell), por exemplo, são produzidas somente com malte Pilsen e têm um sabor bem mais amargo do que as cervejas brasileiras.
      Existem também cervejas do tipo Pilsen, mais pesadas e com teor alcoólico maior. A Amstel Gold, a Carlsberg, a Elephant e a 1664 de Kronenbourg são algumas delas.
      A marca de cerveja Pilsen mais conhecida no mundo é a holandesa Heineken.
 

      8.2 - Kriek Lambic
 

      Existe uma estória famosa sobre a invenção da cerveja Kriek Lambic. Conta-se que na aldeia de "Pajottenland", um cervejeiro recebeu a encomenda de produzir uma grande quantidade de cerveja para a festa anual. Um outro cervejeiro concorrente, com ciúmes, derrubou quilos de cereja no tanque com o propósito de estragar a cerveja. Mas, a cereja saiu pela culatra. Os convidados da festa adoraram a cerveja.
      Além do sabor e cor diferentes dados pela cereja, a cerveja Kriek Lambic usa um fermento exclusivo: o fermento do ar ambiente, impregnado de levedura selvagem. Este fermento só é encontrado no Vale do Rio Zenne, perto de Bruxelas capital da Bélgica, onde a cerveja Lambic é produzida.
      O processo de fermentação é espontâneo e demorado. A cerveja fica em tanques abertos ao ar livre durante semanas.
       Este tipo de cerveja deve ser tomado a uma temperatura de 5 a 10 graus Celsius, em copos esféricos com pé curto. A cerveja Lambic tem 5,5% de álcool e o doce sabor de cereja.
 

      8.3 - Trappist e Abby
 

      A cerveja Trappist é originária da Bélgica e só pode ser feita em mosteiros, pelos monges. Somente 5 mosteiros na Bélgica produzem este tipo de cerveja: Westmalle, Chimay, Rochefort, Orval e St. Sixtus.
      A cerveja Abby é parecida com a Trappist. A diferença é que ela é produzida nas grandes cervejarias belgas que utilizam receitas compradas dos mosteiros que pararam com a produção de Trappist. Existem 2 tipos de cerveja Trappist. A escura ou dobrada, como é chamada, é produzida com malte caramelizado e tem uma cor escura e um sabor suave. Esta cerveja contém 7% de álcool e deve ser tomada a uma temperatura entre 10 e 14 graus Celsius. O outro tipo é a Tripel, uma cerveja dourada de sabor pesado e espuma muito cremosa. Ela tem 8,5% de teor alcoólico.
      As cervejas Trappist e Abby têm alta fermentação e não costumam ser filtradas, por isso devem ser servidas com cuidado para evitar que a levedura presente na garrafa caia no copo.
 

      8.4 - Amber
 

      A cerveja tipo Amber é produzida na Bélgica e se parece muito com a cerveja tipo Pilsen, porém tem alta fermentação e usa malte vienna. Isso faz com que a cerveja Amber tenha cor marrom avermelhada, sabor suave e um aroma adocicado característico da levedura. O aroma, aliás, é o charme dos tipos de cerveja de alta fermentação.
      Entre as marcas mais conhecidas estão a De Koninck e a Palm.
      A cerveja Amber tem teor alcoólico de 5% e deve ser tomada em copo "Bolleke" ou copo esférico.
 

      8.5 - Witbie
 

      Característica da Holanda e Bélgica, a cerveja Witbier ou cerveja "Branca" é produzida a base de trigo e sofre alta fermentação. A origem da cor meio branca é da levedura presente na garrafa.
      O sabor da cerveja "Branca" é meio doce e, ao mesmo tempo, um pouco ácido. Esta acidez se deve às cascas de laranja e de várias ervas utilizadas na sua produção.
      Consumida principalmente no verão por causa do sabor refrescante, a cerveja "Branca" tem 5% de teor alcoólico e costuma ser servida em copos de vidro, tipo baldes, com uma fatia de limão.
 

      8.6 - Bockbier
 

      Na Alemanha medieval, existia um reinado chamado "Grubenhagen". Na capital deste reinado, Einbeck, era produzida uma cerveja escura de alta fermentação.
      Originalmente a Bock surgiu de alta fermentação, mas com o passar do tempo passou-se a utilizar levedura de baixa fermentação. Esta cerveja era tão admirada pelo rei da Bavária, que ele convidou um mestre cervejeiro de Einbeck para ir a Munique (capital da Bavária), especialmente para produzi-la.

      Ao longo dos anos, devido ao sotaque da Bavária, o nome mudou de Einbeck para Oanbock e depois, para Bockbier. Como Bock em alemão significa "Bode", a lenda diz que esta cerveja pertence ao signo de Capricórnio, o qual coincide com a época de Natal.
     A cerveja Bock tem cor muito escura e avermelhada, sabor doce, pesado e meio amargo e um teor alcoólico de 7%.
 

      8.7 - Stout
 

      De origem Irlandesa, a Stout é uma cerveja preta que tem uma imagem muito masculina. Ela é pesada, bastante encorpada, tem sabor amargo e uma espuma muito cremosa.
      A Stout é produzida com parte do malte substituído por cevada não maltada e torrada. Daí, a cor preta.
   As marcas mais famosas deste tipo de cerveja são a Murphy's e a Guiness.
 

      9 - Classificação Básica
 

      Pela legislação brasileira, além das denominações tradicionais, a cerveja pode ser também do tipo Export e Larger (características semelhantes a Pilsen).
      As cervejas são classificadas em 5 itens:
      a)Pela fermentação:

      a.1) Alta
      a.2) Baixa

      b) Extrato primitivo:

      b.1) Fraca - 7 a 11%
      b.2) Comum - 11 a 12,5%
      b.3) Extra - 12,5 a 14%
      b.4) Forte - acima de 14%

      c) Cor:
 
      c.1) Clara - menos de 15 EBC
      c.2) Escura - 15 ou mais unidades EBC

      d) Teor alcoólico

      d.1) Sem álcool - menos de 0,5%  p.p.
      d.2) Baixo - 0,5 a 2%  p.p.
      d.3) Médio - 2 a 4,5%  p.p.
      d.4) Alto - 4,5 a 7% p.p.

      e) Teor de extrato (final):

      e.1) Baixo - até 2%
      e.2) Médio - 2 a 7%
      e.3) Alto - mais de 7%
 

      10 - Produtores & Consumidores
 

      Os Estados Unidos, seguidos de perto pela China, são os maiores produtores mundiais de cerveja. O Brasil ocupa a quinta posição com quase 8 bilhões de litros, produção estimada em 1995.
      A Alemanha, a República Tcheca e a Bélgica são os maiores consumidores per capita do mundo, cerca de 150 L/pessoa/ano.
      O Brasil em 1995 registrou um consumo de 53 litros per capita.
 

      11 - Chopp x Cerveja
 

      Não existe basicamente nenhuma diferença entre o chopp e a cerveja. Eles se distinguem somente nas fases finais de produção.
      A cerveja, depois de colocada em garrafas ou latas, é pasteurizada. Já o chopp vai direto para os barris e de lá para o seu copo.
 

      12 - Os 12 Mandamentos
 

      I - A cerveja sai pronta da cervejaria: não pede, portanto, envelhecimento. Quanto mais jovem, melhor será o seu sabor.
      II - Guarda-se as garrafas de pé, em lugar fresco e sem sol, para evitar oxidação prematura.
      III - Evita-se gelar a cerveja em freezers, pois a violência do congelamento prejudica o sabor, então resfriá-se em geladeira.
      IV - Depois de gelada, deve ser consumida. Nunca descongelar e voltar à geladeira. Isso acaba com seu sabor e suas propriedades.
      V - A temperatura ideal para beber as do tipo pilsen é entre 4 e 6 graus. "Estupidamente gelada", como se diz, ou seja, próxima do congelamento, prejudica a formação de espuma e as papilas degustativas
      VI - Tulipas e canecas de cristal, são as ideais, pois mantêm melhor a espuma e a temperatura.
      VII - Resíduos de gordura no copo são fatais para a bebida, acabando com o colarinho e liberando o gás carbônico, o que deixa o líquido com gosto ruim.
      VIII - Tomar cerveja sem colarinho é uma heresia. Dois dedos de espuma são o ideal para reter o aroma e evitar a liberação do gás carbônico.
      IX - A espuma revela a persistência e bom estado da cerveja.
      X - Copo previamente gelado deve ter seu interior passado em água corrente, antes de servir a bebida. Isso elimina os cristais de gelo que se formam no copo, deixando suas paredes lisas, para que a cerveja desça macia.
      XI - Faz bem à saúde. Com 90% de água, a bebida hidrata o corpo. E com apenas 3 a 5 graus de álcool, como as do tipo pilsen, a cerveja reativa o metabolismo - quando ingerida moderadamente. Além disso, é rica em vitaminas, carboidratos, proteínas e aminoácidos.
      XII - Cerveja não engorda. É folclore associar 80 calorias de um copo de 200 ml com a formação de barriga. Os acompanhamentos gordurosos em exagero é que engordam. É claro que, se tomar grandes quantidades diárias, acabará ganhando alguns quilinhos a mais.
 
 


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